quarta-feira, 30 de junho de 2010

Depois de Ver... Cuecas, mulheres e sandálias.

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Acredito na bondade das pessoas, e fui criado de forma a partilhar o que tenho, não me importo em compartilhar, dividir, emprestar, mas há três coisas das quais sou extremamente rigoroso quanto a partilha: “mulher, cueca e sandália”. Não há nada mais intimo que uma sandália, não a nada mais pessoal que uma cueca e não a nada que eu tenha mais sentimento de posse do que uma mulher que me goste.

Acreditem, ainda continuo sendo uma pessoa bem “dada”. Ao conhecer alguém novo, dou toda corda, toda confiança e ao menor sorriso me entrego. Porém sou exigente, pode ate parecer injusto e egoísta da minha parte, mas já que dou tudo de mim assim de cara, de partida, me acho direito de cobrar o mesmo. E se me decepcionam... Ah, se me decepcionam para recuperar essa confiança vai custar muito mais do que a maioria esta disposta a dar.

Mas quem olhar bem pra mim verá que aquela criança gritando e esperneando com quem usou minha sandália, não existe mais. Já sou bem grandinho e esse tipo de mau-criação não faz mais parte de mim. A criança da vez descobriu que a uma quadra daqui há um supermercado cheio de opções. Basta abandonar a sandália antiga, a usada por outrem, e experimentar as inúmeras que me aguardam na prateleira. E assim é com tudo mais.

Prefiro dois pássaros na mão. Se não for assim, prefiro ver os dois voarem livres enquanto continuo a busca.

sábado, 26 de junho de 2010

Depois de Ver... Vidros ao Chão.

- É só isso... – Sussurrava ele para si mesmo enquanto escutava a taça de vinho estilhaçar-se ao chão e encher a sala vazia de barulho, depois o silencio. As mãos ainda continuavam abertas soltas ao lado da cadeira, como que ainda segurassem a taça que acabara de cair. Os olhos mantinham um olhar penetrante e fixo em algum ponto da parede, enquanto os pensamentos pousavam longe em rostos tão familiares.

- Acabou! Acabou! Acabou! – Gritava ela ao espelho tentando se convencer. Os gritos se intercalavam a música alta vinda do som e juntos explodiam janela a fora, ferindo ouvido de vizinhos receosos.

As lembranças eram os lábios, eram os braços, eram os dois. Era o futuro sonhado, o passado amante, eram os dois.

- Ainda não acabou! – diriam os lençóis dele, sabiamente. Baseado nas tantas vezes que fora molhado pelo suor da lascívia dos dois corpos. Baseado na lagrimas que tantas vezes o molharam pela saudade, pela duvida, pelo primeiro sinal de briga. Diria isso pensando nas palavras de carinho, de amor, de saudade, que tantas vezes ele ouvira.

A verdade era uma só: "Ainda não era o tempo".




sábado, 19 de junho de 2010

Depois de Ver... O Verbo.

Na dor, recorra ao verbo.
No medo a rima te auxilia
Na tristeza as palavras podem te ajudar

As letras se unem por ti
Os versos afastam os pesadelos
As poesias levam as dúvidas



Na solidão a língua é sua amiga
Na falta as frases são tua água
Na angustia os vocábulos te consolam

A prosa esmaga a saudade
O texto preenche o ócio
A grafia desfaz a distância.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Depois de Ver... Calos.


Calos são coisas que sempre nos faz reclamar. Mais se repararmos bem eles são apenas proteções do corpo contra algo que o agride. Se incomodam significa que algo machucaria ainda mais se eles não estivessem lá.


E se “Gato escaldado tem medo ate de água fria”, o único mal real causado pelos calos é que deixamos de sentir e/ou sentimos com muito mais dificuldade. Aquela pequena dor ou desconforto que sentimos com sua presença não é quase nada comparado a dor da qual ele nos protege. Deixar de sentir é a resposta mais simples e inteligente que o corpo tem para se proteger, tanto físico quando mentalmente.

Infelizmente não é possível criarmos e desfazermos os calos na hora que bem entendemos. Para poder sentir isso ou aquilo e deixar de sentir tudo o mais e vice-versa. Mas com os cuidados e tratamentos certos e substituindo o agressor por algo mais confortável conseguimos desmanchando-os aos poucos, voltando assim a sentir.

Os calos nos tiram a beleza, o conforto e o tato. Com eles nos tornamos áspero ao toque dos outros. Podemos tentar mudar isso só colocando o pezinho na água pra ver a temperatura ou abrindo a caixa pra ver qual é a do gato. Muitas vezes pelo simples medo de mudar, de tomar uma atitude arriscada, porem acertada é que perde-se a oportunidade de arrancar de vez a pele do calo e sentir a dor por algum tempo e logo após ver uma nova pele nascer.