terça-feira, 18 de outubro de 2016

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Depois de Ver... As Metades.


“Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come. ”
 Josué de Castro

Salvo a licença poética abordada pelo autor da frase, e a ironia de haver um desequilibro nesta conta no mundo real.

O que afirmam alguns estudiosos e parte da população, é que nos últimos anos essa balança pendeu para o lado do dos que tem medo. Muitos, sobretudo no Brasil, saíram da linha de pobreza. Seja por mudanças no panorama mundial ou por políticas internas, que pouco nos cabe discutir aqui.

Dados os resultados das urnas das últimas semanas, o que se percebe é uma perda da força nas governanças municipais pelos partidos ditos de esquerda ou centro-esquerda. Muitos dizem e dirão que isso reflete o a ascensão de classes marginalizadas, outros que isso se deve aos resultados negativos (sobretudo econômicos) sofridos nos últimos anos pela administração do país, sem falar da crise política por questões judiciais, corrupção, etc...

Exemplos similares ao redor do mundo é que não faltam, e parecem combinar com a crescente onda de conservadorismo e de administrações com maior foco na economia do que o dado pelas gestões anteriores.
O argentino Macri, a eleição do Trump nas prévias e sua chegada às eleições com chances reais de ganhar, o número expressivo de apoiadores do Bolsonaro no Brasil...

O fato é que não dá para se afirmar com razoável certeza que rumo tomará o globo nos próximos anos.


Se isto é algo cíclico como afirmam alguns, ou se a estrutura organizacional do mundo mudou e entramos em uma nova etapa da conjuntura político-geográfica social do planeta, na qual, o Josué de Castro finalmente estará errado e todos conseguem dormir e comer com tranquilidade, só o tempo dirá.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Depois de Ver... Meu Maior Presente

Sempre fui meio social. Lembro de um aniversário, devia ser o de 12 ou 13 anos. Em que ganhei o direito de escolher meu presente. Corri nervoso para o mercado da cidade para escolher o meu presente. Como filho único de poucos e próximos amigos. Sabia bem o que era brincar sozinho. O que me encheu os olhos? Um supercarro de controle remoto. Era uma Ferrari vermelha que cabia exatamente no valor máximo que tinha para a compra do presente.

Com um controle que permitia se afastar até 20 metros do carrinho, alcance de velocidade de incríveis 7 km/h, a Ferrari era o sonho de consumo de milhões ao redor do mundo, e aquela luxuosa máquina em miniatura era o de centenas, talvez milhares de criança. Inclusive daquela, o pequeno eu.

Mas sabe o que? Comprei, com o mesmo valor da Ferrari, 3 pequenos carros, também de controle, mas com fio de pouco mais de 60cm, que nos forçava a andar junto ao carro. E corria? Corria, a incrível velocidade 2km por hora, só isso.

Mas ele fazia o que o outro não permitia, brincar com os amigos, de igual para igual. Mas ai me perguntam, “o aniversário não era seu?”, “você não poderia ter emprestado a eles a Ferrari, para eles também brincarem?”. E a resposta é simples, podia, mas não o fiz. Preferi partilhar aquele momento com eles de forma efetiva e completa.

Mas não se engane, não fiz meramente por motivos nobres e maravilhosos, é que sempre fui meio solitário. E isso me fez ser ao mesmo tempo independente, mas preocupado com o bem-estar dos que me rodeiam.
Não era questão de comprar amizades, sempre tive amigos independentemente do dinheiro, que nunca tivemos muito. Era questão de multiplicar a felicidade, através da felicidade de todos.

Quando um só sorriu, a piada não foi adequado. Quando um só come em meio a muitos, por mais que este coma bastante e esteja satisfeito, não há comida suficiente.

Hoje fico feliz com a lembrança do pequeno Marcello, correndo, brincando e compartilhando o mundo. Que por mais que às vezes pareça ser em minha cabeça. Nunca foi só meu.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Depois de Ver... Humanas X Exatas

A área de ciências humanas vista como inferior ou fácil. Já pararam para pensar?
É fato que somos seres sociais. Mas viver em sociedade permite que se considere especialista no ser social? Seria o mesmo que dizer que uma recepcionista de hospital está habilitada a dar diagnósticos médicos apenas por passar horas dentro de um hospital.

Porém, é comum no dia-a-dia pessoas comuns debaterem falarem e pensarem sobre temas como sociedade e indivíduo. O que não ocorre com a mesma frequência com cálculos matemáticos, por exemplo. Concordo que os indivíduos têm , de certa forma, propriedade para lidar e opinar sobre questões sociais e humanas simplesmente por serem humanos, mas daí contestar e contradizer estudiosos da área com o simples argumento de que faz parte da sociedade, considero um pouco de exagero.

Não é comum matemáticos, físicos e geógrafos fazerem apontamentos em relação a doenças ou a diagnósticos médicos. Ainda que sejam eles os pacientes. Nem vemos médicos, apontando sobre cálculos matemáticos ou questionando os fundamentos ou estudos da física. Então por que se permite que estes profissionais opinem, determinem e ditem as regras da metodologia pedagógica e a construção do saber?

Notem que quando faço este apontamento, não falo sobre licenciados em disciplinas, mas também daqueles que estudam, atuam e pesquisam sobre a área em questão.

Ser da sociedade, te dá o direito de opinar, reivindicar e até questionar certos fatores sociais. Porém não permite que você determine parâmetros sociais. Na educação ocorre o mesmo. Metodologias educacionais devem ser formuladas e consideradas por profissionais e estudiosos da pedagogia e afins.


Sou um partidário da ideia de interdisciplinaridade dos conteúdos e círculos de saberes. Um profissional da área computacional, por exemplo, pode e deve auxiliar na área médica para otimizar o serviço de saúde, mas o parecer deve ser dado por um médico ou profissional da área.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Depois de Ver... O Mundo à Moda da Casa

É natural do ser humano pensa-se o mundo a própria maneira. Pesar o mundo com a sua balança. Até aí nada de anormal, a coisa se complica quando se considera que todo o resto é uma extensão de seus padrões e acredita que é deste modo que devem se comportar.

Não é nada fácil avaliar ou mesmo viver as interações sociais, respeitar as individualidades e  peculiaridades de cada ser que nos cerca. Mas daí, achar que nossos valores são os únicos aceitáveis ou corretos é outra história. Muito se fala sobre conflitos de gerações, mas tudo é muito mais do que a diferença entre novo e velho. Independente do certo e errado, há um egocentrismo intrínseco que nos limita a entender o outro, pelo simples medo do diferente.

Há a necessidade de um mundo no qual sejamos capazes de identificar as experiências de outrem, por mais distintas que sejam das nossas, como legítimas e dignas de respeito. A música é grande exemplo disso. Hoje vemos os mais variados tipos de movimentos e manifestações da cultura POP brasileira, o funk ostentação, o RAP, o tecnobrega, que são tratados com preconceito e afastamento. Muitas vezes pelo simples desconhecimento da realidade e mundo no qual estes movimentos tem berço e lugar social.

Estes jovens, ganham hoje poder aquisitivo, através de uma música. Ganham notoriedade e reconhecimento em seus nichos sociais, passando a fazer parte do mundo de consumo, tanto fomentando pelas grandes mídias. São estes mesmos jovens que não estão sendo ouvidos, não estão sendo representados. Não estão sendo lembrados pelas marcas que tanto cultuam.


Estes movimentos têm muito a dizer, são gritos, altos e retumbantes que manifestam a cultura de classes, de uma grande parcela da população, um grito de “estamos aqui”. Como muitos outros movimentos da cultura e da música vividos pelos pais e pelo mundo. O que talvez falte seja uma estrutura neste grito, uma fundamentação.

Quando a nossa visão de mundo não combina com a visão de mundo dos que os cercam, deve haver empatia para que um possa compreender o lado do outro. Pois só assim podemos escutar o grito daqueles que tem algo a nos dizer, para podermos discernir o que é vaidade do que é socorro.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Depois de Ver... A Política.

O poder é uma das instituições mais velhas. Desde que o homem passou a viver e conviver em sociedade, tornou-se necessário a instituição de poder. De modo a balizar e equilibrar as relações.

Muitos fazem questão de bradar o quanto odeia política, porém, esquecem de pensar que somos políticos cotidianamente. Somos políticos ao negociar com os pais o horário para chegar. Até os contatos com amigos e conhecidos. As relações de poder estão em todo viés da sociedade e negá-las é como ignorar a existência do obvio. E esta estrutura por si só não denigre ou destrói o meio social, o mal está em sua interação com o homem. 

Em seu livro recente (2015) o sociólogo alemão, Zygmunt Bauman nos faz uma intrigante pergunta: “A Riqueza de Poucos Beneficia a Todos Nós?”. A pergunta que dá nome a obra, nos remete a uma reflexão sobre as relações de poder da sociedade atual. Em seu livro o sociólogo nos leva, com maestria por uma viagem em dados e informações, que não responde, mas nos leva a mais e mais questões deste cunho.

Na minha opinião, resposta para esta pergunta nos é dada de forma concisa e brilhante por Luís Fernando Veríssimo, na sua coluna do dia 17/07, através da citação popular americana que diz “...é só deixar os ricos se lambuzarem que alguma coisa sobrará para os outros...”, mas ele completa “...aqui (no Brasil) não funciona. Aqui funciona um complexo no modelo americano, com a diferença que nada escorre desse pote de melado. ”

O que nos leva a crer, que o poder, a desigualdade e as diferenças sociais existem e são constantes nos agrupamentos sociais de qualquer ordem. O que difere é seu nível e peso sobre a construção do cidadão.

Com a proximidade de mais uma eleição, vale nos questionar sobre as escolhas dos que nos representarão nos próximos anos. E entender a importância social que a política tem em nosso cotidiano, não tenha raiva do jogo, odeie os mau jogadores. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Depois de Ver... As Inteligências

Para aqueles que levam o dia a dia, apenas fazendo o que são mandados, repetindo as tarefas sem refletir muito sobre elas, no momento em que surgir uma oportunidade de mudança de evolução é que terá que começar a se preparar. Percebe a falha disto?

É diferente do dia-a-dia de quem se aprimora e se prepara para várias situações. Que pensa em se melhorar a todo momento, pois para estes, quando surgir a oportunidade eles já estão em processo de preparação, o caminho a se percorrer para estar apto é mais curto e fácil. É melhor aprimorar-se e adequar-se um pouco do que começar uma mutação ou mudança mais complexa.

É como inércia, muito mais fácil se manter em preparação do que iniciar o processo. E essa preparação pode ser feita das mais variadas formas, leitura, jogos, cursos, cursos on-line, vídeos e palestras. O importante é buscar ações que tenham enriquecimento de conhecimento e habilidades, com temas de seu interesse, seja lá qual for o método ou plataforma. Jogos e filmes, costumam dar excelentes resultados no aprendizado de línguas estrangeiras. Por isso devem ser encarados como excelentes aliados do processo de ensino formal, para a aprendizagem do aluno.

Na década de 80, o psicólogo Howard Gardner desenvolveu o que se chama hoje de Teoria das Inteligências Múltiplas, defende que somos dotados de diferentes tipos de inteligências como a musical, espacial, corporal e entre outras, e não só da inteligência lógica (QI) mensurada comumente até então. A inteligência lógica pode ser classificada como a capacidade de resolver problemas.

Hoje adota-se a ideia de desenvolver estas inteligências que decorre dos diversos níveis e formas de interação com o mundo que nos cerca, e identificar estas interações é papel de todos, sobretudo de pais e educadores, que objetivam a formação das crianças e adolescentes.

O que se percebe então é que os estímulos sócio/ambientais são extremamente importantes no desenvolvimento. E estão inseridos em locais e envolvidos com pessoas que favorecem, oferecem estímulos ou se destacam com determinadas capacidades de influenciar neste quesito.

Mas um fato não pode ser esquecido, o desenvolvimento destas inteligências e capacidades, apesar de influenciado pelo meio, é primordialmente ativo e individual, inclusive e devido à velocidade, modo e qualidade do aprendizado, que varia de pessoa para pessoa. E quanto mais ativo, orgânico e natural tornamos este processo, o desenvolvimento será progressivo e contínuo.



sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Depois de Ver... 10.958 mil dias

Sim. Cheguei aos 30. E inevitavelmente olho para o passado. Com ar nostálgico e até avaliador do passado.
E o que vejo são duas constantes ao longo desse tempo.

Querendo ou não vocês dois de forma direta ou indireta fazem parte da minha vida diariamente ao longo destes 30 anos. Hoje, mesmo longe, mãe você é apoio, é conselho, é ajuda seja psicológica, financeira ou o que quer que apareça. Mesmo que poucas, as conquistas que tive e tenho são constantes, integras, honestas e no geral todas tem um dedinho seu. Todas também são suas.

A você pai, sempre como uma referência e importante para saber que honestidade é um dos maiores valores que alguém pode ter. Para mim, você sempre foi e será sinônimo de inteligência e caráter. A sua criatividade e inventividade são exemplos, linhas que me inspiram e norteiam.

A educação, cultura e ensino de qualidade que ambos me proporcionaram, muito fez e faz diferença em minha jornada. Foi tudo isto, junto ao apoio, moral, psicológico e financeiro, que me deram foram os principais motores que me trouxeram aqui, tão longe. E que com certeza me impulsionará a muito mais longe.

Mas sei que nem só de pais minha vida foi feita, família, amigos e colegas também tiveram grande influência. Quantos são as tias, quase mães, primos e amigos. É muito o carinho recebido sempre e de tantas maneiras.
Sempre achei a referência de que família é uma ancora estranha. Ancora é pesada nos prende, nos limita.

Vocês todos são para mim, boias, que se mantem próximas e me mantem seguro e apoiado nos momentos mais tempestuosos, sem limitar o meu ímpeto de conhecer o mundo, e me ajudam a me manter a salvo, neste mais profundo e misterioso que é o mundo.


Amo todos vocês de maneira única e particular, e as lembranças maravilhosas que me proporcionaram em todos estes anos são verdadeiros presentes. Obrigado a todos, e que venham mais 30.

Depois de Ver... O A pureza e o Pecado

Há um “Q” de pecado
Em cada cama coberta
Na rua escura e deserta
Em todo lábio molhado

Há um “q” de pureza
Em todo bar e puteiro
No fogo, no candeeiro
No beijo e na safadeza

Em tudo há pecado e pureza
No santo e na santa do altar
Na fala e em seu olhar

No bruto e sua beleza
Na relva e na natureza

E em todo jeito de amar

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Depois de Ver... A Desertificação dos Espaços Públicos.

Um grande benefício, que o Pokemon Go pode ter trazido para o mundo, pelo menos no primeiro momento, é um povoamento das ruas. Uma estagnada no processo de desertificação dos espaços públicos. Que é um dos fatores que propiciam a violência.

O que nos leva a refletir sobre o processo de desertificação dos espaços públicos. O isolamento facilita a ação de assaltantes e criminosos, gerando medo dos moradores em relação aos espaços. O que torna o efeito cíclico e infinito, no qual o medo do perigo reforça o isolamento, e o isolamento por sua vez propicia o perigo.

O medo da violência, levou e leva, pais a isolarem seus filhos e filhas em casa, ou dentro dos muros e grades dos condomínios, amparados e apoiados pelo desenvolvimento tecnológico e da comunicação, que tem o poder de trazer o mundo para dentro dos lares.

O objetivo aqui não é ser saudosista e dizer que antigamente o mundo era melhor pelas crianças poderem ir para as ruas brincar de bola ou pique-esconde. A reflexão que trazemos para este espaço é que talvez nas novas gerações, a ideia de ir para a rua pode se tornar mais atraente através de ferramentas tecnológicas como essas. E a tecnologia de realidade aumentada pode ser uma excelente ferramenta educacional quando bem utilizada. Além de trazer para a rua as pessoas de bem que hoje costumam se trancar em suas fortalezas gradeadas.

Os espaços de convivência comum, hoje voltam a ser ocupados pela população de maneiras distintas das que vivíamos décadas atrás, como a nova comida de rua dos foodtrucks, tomando o lugar dos tradicionais espetinhos ou do pipoqueiro.


Deve-se atentar para a nova transformação pela qual a sociedade passa. E retomar, seja como for, os espaços das ruas, praças e avenidas. E nesta pós modernidade, na qual mesmo em casa as pessoas tem seus  próprios celulares, computadores , e televisores, e quase não se conversam, talvez, a tecnologia, que vem nos afastando a décadas, e tornando os relacionamentos cada vez mais frágeis e efêmeros, seja o mesmo fator a aproximar as ilhas que nos tornamos.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Depois de Ver... Que a Escrita Não me Assusta

Encontrar a sua missão de vida e identificar as suas paixões são ferramentas importantes para o desenvolvimento pessoal. Pesquisar, estudar, ler e produzir sobre assuntos de seu interesse se tornam muito mais prazerosos.

Identificar estes padrões e gostos pessoais é parte essencial para o crescimento. Quando pesquisamos sobre algo que gostamos, horas de pesquisa podem parecer minutos. E ainda que o seu gosto seja considerado algo bobo como filmes ou jogos, tudo ajuda no processo de aperfeiçoamento pessoal de técnicas de estudo. Ou seja, ter o costume de pesquisar sobre filmes, torna o ato de pesquisar comum, e quando necessário realizar pesquisas de cunho acadêmico este comportamento já está internalizado.

O mesmo ocorre com a leitura. Não há leitura ruim, inferior ou de menor valor. Todas, seja ela, romances pops, quadrinhos, bula de remédio ou lista telefônica, ajudam a construir hábitos de leitura e desenvolver a capacidade e velocidade de ler (decodificar e interpretar as palavras).

Quanto a escrita, sempre achei que tivesse um tanto de inspiração. Que livros saíam prontos das cabeças dos escritores. Que as palavras corriam soltas para o papel, se aglomerando até formar os livros, poemas e textos dos grandes e pequenos nomes da literatura.

Para mim, a escrita era como um desabafo, uma fuga da realidade. Um esvaziamento das angustia. Era algo preso que via por meio das letras sua forma de transbordar. As palavras mexem comigo com frequência, fluxos de pensamentos recorrentes, que muitas vezes só se esvaem quando escritos.

Só recentemente, passei a olhar a escrita como uma prazerosa obrigação. Uma espécie de legado, uma contribuição. Como uma forma de se eternizar. Logo eu, que por tanto tempo considerei a eternidade como um peso exacerbado para se carregar, uso hoje as palavras para me eternizar. Hoje percebo que o processo de escrita é um exercício, um treinamento, uma atividade que é aperfeiçoada e melhorada com a prática.


A escrita, sobretudo é um exercício de leitura, de pesquisa, de consumo, remodelagem e criação de informações. É ler o mundo e recontá-lo à sua maneira.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Depois de Ver... Alunos Graduados em Professores.

A leitura está pouco presente na vida de nós brasileiros. Mesmo a internet, que tem o caráter de democratizar o acesso e a construção de conteúdo, são focados nos materiais visuais e muitas vezes de pouco conteúdo reflexivo. São pacotes prontos de informações já mastigados, e às vezes até já digeridos que exigem pouco do receptor para consumí-lo.

Os famosos textões são vistos com distanciamento, porém, toda e qualquer leitura de mais de um parágrafo é tratada como chata e indesejável. E as redes sociais que deveriam funcionar como incentivo à leitura, trazendo textos leves, informativos e atrativos, colocando a leitura e reflexão como rotina na vida dos usuário, acabam por não funcionar desta forma.

E nos ambientes acadêmicos a rotina se repete, o que se vê, são universitários, que passam todo o curso sem ler. Muitas vezes nem mesmo os materiais, livros e apostilas indicados pelos professores. Como diria o professor Vinicius Lousada, concluem os cursos formados em professores, em apenas uma corrente teórica, e não nas matérias de estudo.

No meio social, o leitor é visto como desocupado como um chato, e a leitura é considerada como uma atividade chata e maçante, estudar é tratado como castigo pelos pais, “se não se comportar na rua, na próxima vez vai ficar em casa estudando”. Como vamos formar leitores e pensadores deste modo?

Expandir horizontes é essencial. Apesar do ensino normativo, ver com maus olhos a educação horizontal e plural, na prática (tanto docente, quanto mercadológica) a interação entre áreas de conhecimento são extremamente necessárias. Diria que tão necessária quanto a especialização. E uma das formas de alcançar este estado é a leitura extracurricular.

Todos temos múltiplos temas de interesse, e fazer links entre esses temas é extremamente produtivo. Como unir a tecnologia com medicina, por exemplo, nos permite hoje ter cirurgias realizadas a quilômetros de distância através de controle remoto. Com segurança e rapidez.

É erro nosso responsabilizar, apenas as grades curriculares pela intersecção de cursos, através da inserção de matérias de outras áreas de conhecimento. Seria como esperar aprender com o que o outro leu. Ou seja, que apesar de possível, passa a ser uma compreensão do conhecimento do outro e pouco há de reflexão ou construção lógica do conhecimento adquirido, como ocorre com a busca pessoal de conhecimento. E nesta busca, um dos métodos mais simples e comum é a leitura.

Um dos desafios do mundo hoje está em conseguir passar às próximas gerações uma paixão que pouco nos foi passada, que é a leitura, e isso em meio a uma concorrência, quase desleal, com um mundo de informações entregues de bandeja, para nossa absorção superficial e passiva.


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Depois de Ver... 50 Tons de Sociedade

“Vivemos em uma sociedade de classes”, com certeza você já ouviu essa frase clichê em seu ensino médio. Porém ela representa bem o meio social, sobretudo no Brasil da atualidade. Há uma hierarquia clara de privilégios, de poder, de dinheiro (que é praticamente sinônimo do anterior), que é comumente retratada. Mas há também uma hierarquia de violência de subjugo, muitas vezes esquecidas, e que só voltam à tona quando se é escandalizado pelas manchetes de violência, tão comum nos guetos, beco e favelas.

Mas é salutar não tratar todas as manifestações, e ações contra o poder estabelecido, como uma minoria igual e carente das mesmas necessidades.

Ainda no período da escravatura, era comum ter alguns negros usados como braço de ferro dos senhores de terra. Eram homens “libertos” que subsistiam entre dois mundos. Não faziam parte da casa grande por não se encaixaram nos padrões físicos exigidos, nem eram tratados como escravos. Viviam no limiar desta relação de oprimido e opressor. Coexistência do oprimido e opressor em uma mesma figura, pode soar estranho em uma análise superficial, mas ela é mais do que válida.

Quando se caracteriza a sociedade como dividida em classes, pouco se pensa nas camadas destas. Etnia, gênero, classe social, religiosidade, orientação sexual... Criam uma infinidade de subgrupos que, conforme dito antes, geram uma divisão clara tanto entre as diferenças, quanto nos sujeitos do ambiente social.

Cunhado no início do século 19, o conceito de interseccionalidade, traz exatamente esta relação. Comumente abordado dentro do feminismo, principalmente a partir da década de 80, o termo se refere à individualidade das questões discriminatórias. Traz a ideia que dentro dos grupos oprimidos há também opressores. Pois as questões sociais e discriminatórias do homem negro, são distintas da mulher negra.  E problemas enfrentados pela mulher heterossexual, muitas vezes divergem das dificuldades da mulher homossexual. São infindas relações neste sentido.

Quando antes as leis antidiscriminatórias tratavam de forma diferente aspectos como raça, gênero ou orientação sexual, hoje a interseccionalidade traz à tona demandas distintas de grupos, que sempre foram tratadas como iguais.

Identificar estas distinções, apesar de difícil, deve fazer parte da nossa lógica social, e principalmente dos nossos governantes. Saber aceitar as diferenças é mais importante do que fingir que somos todos iguais. E saber das características opressoras e oprimidas dentro de si, é um passo significativo no caminho da construção de um mundo mais justo.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Depois de Ver... A Pobreza

Quando a economia vai mal até o rico descobre a pobreza.

“Estou vendo a crise à porta. Minha faxineira foi assaltada no bairro dela, o porteiro do meu prédio teve a casa invadida.”

O trecho acima, foi tirado de um bate papo real, com alguém de uma classe abastada. E este é o modo pelo qual a classe privilegiada ver a pobreza bater a sua porta.

O que não se percebe nos discursos que rondam a população, sobretudo dos que tem melhores condições financeiras, é que “do pau 0071ue dá em Francisco pela primeira vez, Chico já cansou de apanhar”.

Quando os mais ricos começam a ver a violência e a pobreza a sua volta, ela começa a ser noticiada como uma novidade, como um problema. Só assim passa a ser algo que merece uma atenção e exige-se a devida solução.

Essa invasão do seu mundo, é o choque de realidades. Enquanto a pobreza, a miséria, a violência, estão na margem da sociedade, não há nada de novo, nada preocupante. Por que a violência, a falta, são tratadas como naturais em certos ambientes.

O que deve ser questionado é se o bem-estar, ou melhor, o “excelente-estar” de alguns, vale o sacrifício de tantos. Vivemos em uma sociedade desigual. E assumir esta desigualdade é o primeiro passo para construção de um novo mundo.

“Construir uma sociedade livre, justa e solidária... Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. ”

O trecho acima, que parece ter sido tirado do meio do manifesto comunista, são apenas trechos do artigo 3 da constituição federal brasileira de 88. O que nos leva a pensar, o que nós como cidadãos fazemos para preservar esta premissa?


A construção desse processo é um dever de todos nós. É um trabalho diário, que deve ser realizado em pequenos e consistentes atos. A começar pelo básico, como prover dignidade e respeito ao outro. É respeitar e assumir nossa responsabilidade como seres culturais. E usar o passado como referências de que caminhos queremos ou não seguir.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Depois de Ver... A Lista de Notáveis

Andei fazendo uma lista mental de pessoas que admiro. A lista chamava-se pessoas a seguir. Não me compreendam mal, não é seguir no sentido de perseguir, nem muito menos seguir nas redes sociais, apesar de ter algumas linkadas em minhas redes. O sentido de seguir que me refiro é acompanhar o trabalho, ouvir, ler, ver tudo quanto for produzido por essa pessoa, no sentido artístico e profissional.

Perceba que em nenhum momento falei em aceitar tudo vindo dessas figuras. O objetivo é me familiarizar com a obra do autor em questão e avaliar por minhas próprias percepções. Mas entendi que as figuras listadas, apesar de pertencerem a diversos seguimentos, como literatura, fotografia, cinema, ciências, economia, etc., todas elas possuem visão de mundo, seja política, religiosa ou social, pelo menos em algum ponto similar a mim.

Com essa análise, me deparei com algo que considerei um problema. Se afasto ou negligencio pensamentos divergentes do meu e me retroalimento apenas de ideias que convergem com as minhas, passo apenas a reforçar os meus próprios conhecimentos e me fechar para outros pontos de vista divergentes. Considerando apenas saberes similares como verdadeiros ou dignos de atenção.

Passei então a ponderar que devo buscar também referências com pensamentos que sejam distintos do meu padrão, para só então expandir a mente e chegar a conclusões que fogem do óbvio. Parafraseando a frase popular atribuída a Einstein, é loucura beber sempre das mesmas fontes e esperar sentir novos sabores.


Por fim a conclusão que cheguei é que não importa o peso da sua lista de notáveis, o importante mesmo é a pluralidade dela. Por que só assim, conseguirei ser livre, ético e exercitar mais a empatia.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Depois de Ver... O Rótulo

Desde o início da comunicação, seja ela humana ou não, um dos seus princípios básicos é a atividade de dar nome às coisas que nos cercam, de criar signos e significados.

Dar nomes ou rotular é uma ação de afirmação do próprio ser e pode ser interpretada como um ato de posse. Nomear é afirmar que conhecemos. Em contrapartida, ao rotular algo é significa-lo e consequentemente perde-se informações no processo.

Cada nome ou representação na comunicação, está cheia de significados e significância. Mas nunca será uma representação fiel ou ideal do objeto. Isso sem considerar que cada signo pode ter mais de um significado, dependendo do interlocutor.

Há uma parábola interessante que trata sobre um rei que não confiava nos mapas produzidos para mostrar a extensão do seu reino e solicitou que fosse feito um mapa em tamanho real. Não é preciso dizer, que um mapa cuja a representação seja a própria extensão do território, deixa de ter um sentido prático.

Mas o fato é que o rei estava parcialmente certo em sua análise, nenhum mapa cumpriria a função de exemplificar de forma perfeita o seu reino, por melhor que ele seja. E assim ocorre com as palavras, a cada palavra que atribuímos a algo, nós reduzimos um pouco da extensão e a capacidade do objeto.

Por outro lado, ao dar um nome ou uma característica a algo, pode-se até estar atribuindo outras características que não são do objeto, por referências que estão carregadas nas palavras. Por exemplo, quando se diz que alguém com quem acaba de trocar apenas algumas palavras, é inteligente, automaticamente carrega-se a pessoa de significados do que é ser “inteligente” em seus conhecimentos prévios.


Assim... O que deve-se buscar saber é que por maior que seja o número de características e palavras e pensamentos que você atribua a algo ou alguém, tudo será sempre mais.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Depois de Ver... Que Todo Mundo é uma Ilha.

Tem um velho ditado árabe que diz: “O que acontece uma vez, pode não acontecer duas vezes. Mas o que acontece duas vezes. Certamente acontecerá uma terceira. ”
Isso diz muito sobre a nossa essência humana. Até nossas dores cotidianas passam a ser mais toleráveis quando são frequentes. Nos acostumamos tanto com o mundo que nos cerca que passamos até a não ver.

A alta exposição a um elemento, pode gerar insensibilidade. É possível fazer um teste simples, imagine você caminhando no shopping e se deparando com um morador de rua deitado no canto. É o que ocorre com a invisibilidade dos moradores de rua, a presença deles é tão comum e familiar que não nos causa mais estranheza. Mas se por ventura ele for inserido em um ambiente ao qual não é rotineiro (como um shopping) passa a se destacar e a chamar atenção.

O excesso de informação também pode nos cegar para umas tantas coisas. É um desafio enfrentado pela publicidade, pois com o excesso de outdoors, placas e luminosos na rua, passamos a não ver (ou prestar atenção) a nenhum deles. Mas é também um desafio para as pessoas no cotidiano, conseguir obter conhecimento neste punhado de informações que se tem, de todo lugar e a todo tempo.

Isso se chama saturação. Ocorre o mesmo com nossos olhos quando ficamos exposto a uma cor (ou luz) por algum tempo. Ele passa a colocar uma sombra, com a cor complementar, sobre a luz a qual somos expostos e passamos praticamente a não ver aquela cor.

O que ocorre com a nossa psique é que passamos a ser menos sensibilizados com o que vemos com maior frequência. Mas qualquer coisa fora do padrão, volta a se destacar. O perigo que mora nesse processo é que assim, pode-se passar a considerar o que é comum como certo. E daí até passar a praticar ou defender tal ato basta apenas uns passos.

Daí a proibição de certo tipo de filme, para crianças e adolescentes. O adulto, no geral tende a conseguir diferenciar melhor algo que por mais que seja comum de ver, continua sendo certo. Já a criança que ainda não tem seu senso moral totalmente desenvolvido pode vislumbrar isso como normal e internalizar a violência, por exemplo, como algo correto. Para muitos adultos pode parecer ridículo, mas assim com as crianças veem o Papai Noel como algo que existe. Filmes e desenhos para elas também são retratos da realidade, ainda que você diga o contrário.

Saramago em um de seus contos fala que “é necessário sair da ilha para ver a ilha”, ou seja, deve se ter uma avaliação crítica e tentar olhar o macro da situação. Em compensação, eu completo, é preciso entrar na ilha para conhecê-la de verdade. Não é possível avaliar com clareza e cuidado a pele dos habitantes da ilha se não se colocar na pele deles. E ainda assim, seria uma visão superficial, pois apenas quem viveu na ilha toda uma vida pode ter uma ideia dos benefícios e dificuldade que a ilha representa.


Daí a provocação que quero fazer. Com isso, instala-se um paradigma, quanto mais se olha para algo, menos se vê, em contraposição, só se consegue conhecer realmente algo olhando cada vez mais. Portanto, se distanciar em certos momentos pode ser necessário para não nos tornarmos insensíveis ao mundo que nos cerca.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Depois de Ver... Que não se posicionar é se “posicionar”

Por anos enchi o peito e bradei aos quatro ventos que não gostava de discutir política. Apesar de ser na melhor das intenções, para evitar conflitos e indisposições. Apesar de sempre procurar estudar e conhecer o processo político, sobretudo do meu país, sempre me abstive a discutir ou sequer me posicionar sobre.

Hoje cheguei à conclusão que ao não interferir sobre algum assunto, seja ele político ou social, estou compactuando com o poder mais forte em vigor.

Do ponto de vista social, quando escolho não escolher, estou dando o poder de decisão para o braço mais forte. E isso acontece diariamente quando presenciamos e nos deparamos com comportamentos misóginos, sexistas, racistas, homofóbicos, corruptos...

A posição de não questionar, ou não intervir, pode ser muito conveniente para si, evitando transtornos. Em compensação, não evoluímos com o questionamento, não permitimos que o outro evolua e até permitimos a perpetuação de comportamentos mal vistos socialmente.

Analisar e ponderar é tão importante quanto o próprio posicionamento. Se este não for tomado por motivos altruístas e nobres, que é a preocupação com o outro, que pelo menos seja por motivo egoísta, poderia ser você no lugar dele.

Não devemos nos calar ao ver atos de vandalismo, violência, preconceito, humilhação, injúria.... Não devemos nos calar nunca. Dirão, mas devemos ser políticos e às vezes não intervir pode ser a melhor escolha. Melhor escolha para quem? Para o humilhado é que não é.

Há de se pôr um fim na política do silêncio, do apoio velado à violência, seja ela física ou psicológica. Ficar calado é sim um ato político, mas de apoio ao opressor.


Volta e meia volto a um ponto, que considero central no comportamento humano, que é a empatia. E ela tem tudo a ver com o que falamos hoje. Se colocar no lugar do outro, tentar pensar sobre a situação e a condição do outro, é fundamental para a escolha e posicionamento.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Depois de Ver... A Aceitação dos Pontos de Vista.

“Até aceito, mas se adequar-se à minha realidade”.

Há um desafio implícito em toda relação social no mundo, o meio termo, o equilíbrio, o respeito. Aceitar as diferenças do outro é um desafio imenso para qualquer um, imagine então para um pai ver diferenças de comportamento entre ele e o filho, algo que para a maioria é praticamente inaceitável.

Ser pai, em nossa cultura ocidental está mais ligado ao processo de eternização de si mesmo do que qualquer outra coisa, como o processo natural, ou a perpetuação da raça humana. A perpetuação de si ou mesmo um desejo dúbio de imortalidade, estes sim são motivos mais críveis para o processo de maternidade e paternidade em nosso mundo.

Tentamos criar nossos filhos como extensão de nós mesmos, como cópias carbono no qual identificamos as nossas próprias características, “olha como é a cara do pai”, “o nariz é da mãe com certeza”, “o gênio deste aí vai ser igual ao do pai quando crescer”.  Com isso temos uma imposição de regras e paradigmas ao outro e a nossa descendência que pouco deixa espaço para respeitar a individualidade ou mesmo verificar novos pontos de vista.

Há uma escravidão mental à uma ou várias ideias já consolidadas, que nos impele em direção a pensamentos estabelecidos. Mesmo estes nem sempre sendo corretos ou mais adequados ao meio ou mundo em que vivemos. E junto a isso, é comum tentar passar à própria descendência seus preceitos.

Mas não se engane, há uma grande importância em passar à prole suas opiniões e a noção de moralidade, deve haver também uma herança cultural, no desenvolvimento infantil. Mas vale ressaltar que toda a sociedade é responsável pela criação e desenvolvimento da criança, direta ou indiretamente. O que a criança ouve, lê ou assiste, seja em casa, escola ou na rua e até mesmo a opinião dos colegas e amigos, são interferências em sua formação pessoal, ética e moral.

O grande dilema se instaura quando esta influência externa, vai de encontro a ideologia e educação aplicada pelos cuidadores. E essa se agrava quando os mesmos não conseguem lidar com a gestão destes conflitos e tratam essas discrepâncias através da simples rejeição e não pelo debate.

Tratamos o diferente sempre como o mal. Mas como disse Sartre em uma de suas mais famosas obras: o inferno é o outro. O demônio é tudo que difere das minhas certezas e convicções. A pouca tolerância ao que nos é diferente, nos faz desconhecer saberes que muito ajudariam na nossa formação pessoal. A consolidação de certezas nos tolhe o desenvolvimento, de modo a nos cegar para a visão do outro, que muitas vezes está tão perto.

O processo empático é um desenvolvimento pessoal, que cabe apenas a nós mesmos. E aceitar opiniões divergentes das nossas, principalmente dos nossos filhos, faz parte deste processo, ainda que seja algo tão difícil de lidar.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Depois de Ver... Que Ainda Sou

Estou vivo!!!

No sentido literal da palavra. Estou muito melhor e muito pior desde a última vez que nos encontramos.
Ainda sou o mesmo menino que gosta de jogos, de ler, de música, filmes, que se acha escritor, que se acha poeta, que se acha criança.

Mas já são outras roupas, outras músicas, outros jogos, outros medos, outros anseios...

As responsabilidades me pesam nos ombros como nunca antes. Livros se acumulam dentro do meu já empoeirado cérebro, e me trazem cada vez mais dúvidas sobre a raça humana. Livros se acumulam na minha cabeceira com o selo de “ainda vou ler”.

O mundo já não é mais tão colorido, O dia parece ter se encurtado. Sobram afazeres, falta minutos, horas, faltam.

Nas nem tudo são ônus. Pessoas boas continuam indo e vindo. Me dedico hoje a uma nova faculdade. Pedagogia, ironia, não!? O velho paradigma e medo das faculdades federais, finalmente me abandonou.

A música!? Continua minha companheira. É uma brincadeira que espero que nunca me abandone. É um prazer meu, simples interior. O repertório aumentou, tudo, do mais novo ao mais velho, se junta as músicas que canto e ouço.


Mas no fundo, ainda sou o mesmo menino que quer abraçar o mundo e não sabe ainda por onde começar.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Depois de Ver... O Ditar do Mundo.

No meio do século passado, o psicólogo humanista, Abraham Maslow propunha a pirâmide das necessidades. Nesta teoria, a necessidade de liberdade (segurança, socialização e autoafirmação) é menos importante na hierarquia de Maslow do que a necessidade básica.

Talvez o humanista tenha um fundo de razão para explicar o apreço de algumas pessoas pelo regime militar. Como o regime ditatorial detinha a política de alimento e “segurança” para todos. Muitos tendem a considerar este modelo como o ideal de sobrevivência. Pois é sabido que economicamente o país passou por uma fase de estabilidade durante o período. Mas a que preço? Ao preço da liberdade, a ideológica e mesmo a de ir e vir.

Mas segundo a teoria de Maslow, em modelos assim, a população dificilmente conseguiria alcançar a auto realização. Pois a necessidade de estima e de socialização ficavam comprometidas no processo. E assim, a ditadura teve seus embates com parte da população que conseguiu subir os degraus básicos da pirâmide. E saciadas assim todas as necessidades básicas e de segurança, o povo viu-se carente de socialização. Pode-se acreditar que a busca por esse processo que impulsionou as revoltas populares.

Traçando um paralelo com o regime fascista abordado na obra 1984 de George Orwel, o poder vive em uma luta constante para manter grande parte da população subindo e descendo nos dois primeiros degraus da “escada” (necessidades fisiológicas e de segurança). Para que assim não se criem necessidades de se relacionar, de se auto afirmar ou de pertencer a um grupo. E com isso consegue manter-se por anos no poder com a população sobre controle. Enquanto que no livro de Orwel o Grande irmão consegue desenvolver essas mudanças de forma satisfatória, a ditadura não conseguiu repetir o mesmo feito com a população, que passou a subir os demais graus da pirâmide.

E exatamente o processo inverso que estamos vivendo agora. O povo com liberdade, com socialização, porem muitos começam a sentir dificuldades para saciar necessidades básicas. Com a alta Inflação, ao aumento do desemprego, a saúde em risco e a alimentação faltando no prato de tantos brasileiros. Faz o que muitos voltem a pensar em trocar a liberdade que possuem pelos bens mínimos com saúde, comida e segurança.

Mas a força motriz, talvez o principal interessado pela volta a ditadura, seja alguns empresários que muito se beneficiavam no período e hoje não podem mais explorar a mão de obra sem pagar o preço justo pelo trabalho.

Outro artificio usado pelos militares, que podemos pontuar, foi a internalização de argumentos claramente contraditórios. O duplipensar, como é chamado na literatura de Orwel, consiste em pegar conceitos antagônicos e usa-los como similares. Como por exemplo:  “Ele matou, por isso merece morrer.”, “O mundo está em guerra contra aqueles que perturbam a paz.”


O que assusta é o quão algo tão ilógico parece lógico na mente das pessoas. Com a manipulação correta, o resultado da soma de dois mais dois, muda tantas vezes, e tão rápido, de quatro para cinco, nas mentes dos manipulados, quanto um ponteiro dos segundos de um relógio.



quinta-feira, 5 de maio de 2016

Depois de Ver... Os Medos de Mudar

Como é difícil voltar atrás em algo que se faz ou se diz. Admitir o erro, o equívoco, ou apenas mudar de opinião, torna-se, quase sempre, uma tarefa hercúlea. É como se a cada vez que se necessita dizer algo contrário a algo que foi dito anteriormente, uma entidade invisível e onisciente nos apontasse o dedo e dissesse: “Você errou e merece sofrer a eternidade por isso”.


O mais interessante é que o mesmo sentimento não ocorre quando simplesmente nos calamos e reprimimos a culpa ou a admissão da falha. O julgamento moral do outro é muito importante neste processo.

Desde muito cedo, normalmente se aprende que errar é algo intolerável, não aceito. Mesmo dependo do modelo de educação a qual se é submetido, no geral não sabemos lidar com nossas falhas. Apanhamos quando tiramos notas baixas, nos criticam quando falamos algo errado. Somos punidos o tempo inteiro por erros e falhas. Então, naturalmente se passa a não aceitar os próprios erros.

Pode-se dizer que uma palavra proferida jamais poderá voltar. Ela solta-se no tempo, no espaço e nas memórias. Quando falamos, perde-se o controle sobre o que foi dito. Assim, desdizer algo, nos soa uma agressão tão grande.

E é esse mesmo mecanismo interno que torna tão difícil a separação ou mesmo o rompimento ideológico com um grupo ou associação. Esta é a dificuldade de deixar de seguir um certo grupo, ou mesmo de falar mal de algo ao qual nos sentíamos ligados emocionalmente, mesmo que este alguém ou algo tenha mudado de postura ou adotado comportamento contrário à nossa filosofia de vida.

Talvez por isso a religião ainda seja tão presente no dia-a-dia das pessoas. Este apego a ideias, preceitos sob os quais somos criados são ainda mais difíceis de serem mudados ou mesmo abandonados. Mesmo a ciência tem a sua resistência ao mudar certos conceitos e correntes de pensamento, apesar de ser mais comum neste modelo de estudo a constante quebra de paradigmas. A atual conjuntura política e social sobre a qual vivemos no Brasil e até no mundo, tudo nos impele a cada dia mais a buscar posturas de ceticismo e tentar a cada dia se reinventar de todas as maneiras.

Considera-se estar mais seguro quando em terrenos conhecidos. E por terreno pode se ler, desde ambiente físico até no plano das ideias. Em um debate, por exemplo, ou quando em uma conversa sobre um tema do qual não se domina, há uma sensação constante de insegurança e em alguns casos até medo.

Tomada de decisões desde as mais simples são baseadas em conhecimentos passados, em arquivos mentais. Quando esses pensamentos são sedimentados e enraizados na mente, através de múltiplas experiências similares ou apenas pela repetição de um mesmo comportamento, torna-se muito mais difícil de modificar o padrão mental e desapegar desta informação. Desta forma o padrão evolutivo do humano é o de identificar o novo como arriscado. Como alerta para se pôr em fuga.

Herdamos de forma massiva comportamentos, atitudes e até a visão do mundo de nossos cuidadores, a sociedade em geral e pessoas próximas, sobretudo na infância. Então, refletir sobre estes padrões é mais que nossa obrigação na formação de um caráter pessoal diante do social. E muitas vezes, chegar e este nível de consciência de si próprio e do meio, exige de nós mesmo um esforço ainda que mínimo de mudança de quebra interna de paradigmas e preceitos.

Devemos tentar ao máximo não se chocar com o novo simplesmente por ser novo. Há de haver o mínimo de reflexão para tomarmos um parecer e uma opinião sobre o mundo que nos cerca.

Como já disse Caetano Veloso “...é que narciso acha feio o que não é espelho e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho...“.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Depois de Ver... A Saída do Paraíso.

Há um certo simbolismo na história bíblica de Adão e Eva. Eles foram expulsos do paraíso por saber. Isso mesmo, por saber. Então, de algum modo a religião cristã encara o saber como algo negativo, como o mal.
Qual é o mal de saber? Qual o problema em saber, que fez Deus os renegar apenas por terem adquirido conhecimento?

O saber sempre foi visto como uma poderosa arma, desde o início dos tempos. O conhecimento sobre o meio, sobre si e sobre o outro, proporciona de maneira singular a divisão da sociedade, desde os primórdios. É fato que aqueles que detiveram primeiro domínio (leia-se conhecimentos) sobre o fogo, tiveram vantagens na sobrevivência no mundo pré-histórico.

A questão chega quando o conhecimento passa de apenas uma vantagem, para ser uma ferramenta da opressão. O que o opressor menos espera é que o oprimido saiba. Não querem nem ao menos que saiba que é oprimido. Este conhecimento por si só, já gera um descompasso na hierarquia.

Somos todos Adão’s e Eva’s, sendo expulsos do paraíso que é a infância, quando passamos a conhecer. E passamos a ter a ciência do bem e do mal, quando perdemos a inocência, comum da idade, tudo ganha mais e mais sentidos. A partir daí, nada será como antes.

Somos tirados do conforto de um mundo conhecido, calmo, pragmático e simples. E jogados no olho do furacão, nas inquietações causadas pelo conhecimento. Se é lançado a um infinito de dúvidas, de incertezas, em um mar de agonias onde cada saber, gera uma imensidão de possibilidades.

Porque o conhecimento liberta. Mas além disso ele nos responsabiliza por nossos atos, pelas consequências dele. E quase nunca é confortável ter escolhas a mão, ter responsabilidades. É muito mais fácil ser guiado, ser ovelha.

Na Alegoria da Caverna, Platão observava o quanto era cômodo se manter com seus velhos conceitos, se manter preso de frente para a parede apenas tentando interpretar as imagens do mundo lá de fora. E mostrava o quanto é difícil se encaixar nos moldes anteriores pré-estabelecidos, quando se expande seu próprio mundo. Ou seja, o quanto é difícil conseguir acesso de volta ao “paraíso” da caverna, quando conhece a realidade e faz uma leitura mais próxima do mundo.

Mas engana-se quem considera os livros como a única fonte de saber. O Paulo Freire, já falava que a leitura do mundo é tão ou mais importante que a leitura das palavras. É preciso experiência dos mais diversos olhares e nuances do mundo e agir de forma ativa, reflexiva e crítica para com este conhecimento.


As “imagens” criadas pelas culturas e informações que recebemos durante toda a vida é tão mais cômoda e simples. E não é fácil romper com estes velhos paradigmas, pessoais e sociais com os quais lidamos diariamente. É preciso ter coragem e boa vontade para sair do paraíso, é preciso coragem para crescer.