quinta-feira, 30 de junho de 2016

Depois de Ver... A Pobreza

Quando a economia vai mal até o rico descobre a pobreza.

“Estou vendo a crise à porta. Minha faxineira foi assaltada no bairro dela, o porteiro do meu prédio teve a casa invadida.”

O trecho acima, foi tirado de um bate papo real, com alguém de uma classe abastada. E este é o modo pelo qual a classe privilegiada ver a pobreza bater a sua porta.

O que não se percebe nos discursos que rondam a população, sobretudo dos que tem melhores condições financeiras, é que “do pau 0071ue dá em Francisco pela primeira vez, Chico já cansou de apanhar”.

Quando os mais ricos começam a ver a violência e a pobreza a sua volta, ela começa a ser noticiada como uma novidade, como um problema. Só assim passa a ser algo que merece uma atenção e exige-se a devida solução.

Essa invasão do seu mundo, é o choque de realidades. Enquanto a pobreza, a miséria, a violência, estão na margem da sociedade, não há nada de novo, nada preocupante. Por que a violência, a falta, são tratadas como naturais em certos ambientes.

O que deve ser questionado é se o bem-estar, ou melhor, o “excelente-estar” de alguns, vale o sacrifício de tantos. Vivemos em uma sociedade desigual. E assumir esta desigualdade é o primeiro passo para construção de um novo mundo.

“Construir uma sociedade livre, justa e solidária... Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. ”

O trecho acima, que parece ter sido tirado do meio do manifesto comunista, são apenas trechos do artigo 3 da constituição federal brasileira de 88. O que nos leva a pensar, o que nós como cidadãos fazemos para preservar esta premissa?


A construção desse processo é um dever de todos nós. É um trabalho diário, que deve ser realizado em pequenos e consistentes atos. A começar pelo básico, como prover dignidade e respeito ao outro. É respeitar e assumir nossa responsabilidade como seres culturais. E usar o passado como referências de que caminhos queremos ou não seguir.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Depois de Ver... A Lista de Notáveis

Andei fazendo uma lista mental de pessoas que admiro. A lista chamava-se pessoas a seguir. Não me compreendam mal, não é seguir no sentido de perseguir, nem muito menos seguir nas redes sociais, apesar de ter algumas linkadas em minhas redes. O sentido de seguir que me refiro é acompanhar o trabalho, ouvir, ler, ver tudo quanto for produzido por essa pessoa, no sentido artístico e profissional.

Perceba que em nenhum momento falei em aceitar tudo vindo dessas figuras. O objetivo é me familiarizar com a obra do autor em questão e avaliar por minhas próprias percepções. Mas entendi que as figuras listadas, apesar de pertencerem a diversos seguimentos, como literatura, fotografia, cinema, ciências, economia, etc., todas elas possuem visão de mundo, seja política, religiosa ou social, pelo menos em algum ponto similar a mim.

Com essa análise, me deparei com algo que considerei um problema. Se afasto ou negligencio pensamentos divergentes do meu e me retroalimento apenas de ideias que convergem com as minhas, passo apenas a reforçar os meus próprios conhecimentos e me fechar para outros pontos de vista divergentes. Considerando apenas saberes similares como verdadeiros ou dignos de atenção.

Passei então a ponderar que devo buscar também referências com pensamentos que sejam distintos do meu padrão, para só então expandir a mente e chegar a conclusões que fogem do óbvio. Parafraseando a frase popular atribuída a Einstein, é loucura beber sempre das mesmas fontes e esperar sentir novos sabores.


Por fim a conclusão que cheguei é que não importa o peso da sua lista de notáveis, o importante mesmo é a pluralidade dela. Por que só assim, conseguirei ser livre, ético e exercitar mais a empatia.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Depois de Ver... O Rótulo

Desde o início da comunicação, seja ela humana ou não, um dos seus princípios básicos é a atividade de dar nome às coisas que nos cercam, de criar signos e significados.

Dar nomes ou rotular é uma ação de afirmação do próprio ser e pode ser interpretada como um ato de posse. Nomear é afirmar que conhecemos. Em contrapartida, ao rotular algo é significa-lo e consequentemente perde-se informações no processo.

Cada nome ou representação na comunicação, está cheia de significados e significância. Mas nunca será uma representação fiel ou ideal do objeto. Isso sem considerar que cada signo pode ter mais de um significado, dependendo do interlocutor.

Há uma parábola interessante que trata sobre um rei que não confiava nos mapas produzidos para mostrar a extensão do seu reino e solicitou que fosse feito um mapa em tamanho real. Não é preciso dizer, que um mapa cuja a representação seja a própria extensão do território, deixa de ter um sentido prático.

Mas o fato é que o rei estava parcialmente certo em sua análise, nenhum mapa cumpriria a função de exemplificar de forma perfeita o seu reino, por melhor que ele seja. E assim ocorre com as palavras, a cada palavra que atribuímos a algo, nós reduzimos um pouco da extensão e a capacidade do objeto.

Por outro lado, ao dar um nome ou uma característica a algo, pode-se até estar atribuindo outras características que não são do objeto, por referências que estão carregadas nas palavras. Por exemplo, quando se diz que alguém com quem acaba de trocar apenas algumas palavras, é inteligente, automaticamente carrega-se a pessoa de significados do que é ser “inteligente” em seus conhecimentos prévios.


Assim... O que deve-se buscar saber é que por maior que seja o número de características e palavras e pensamentos que você atribua a algo ou alguém, tudo será sempre mais.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Depois de Ver... Que Todo Mundo é uma Ilha.

Tem um velho ditado árabe que diz: “O que acontece uma vez, pode não acontecer duas vezes. Mas o que acontece duas vezes. Certamente acontecerá uma terceira. ”
Isso diz muito sobre a nossa essência humana. Até nossas dores cotidianas passam a ser mais toleráveis quando são frequentes. Nos acostumamos tanto com o mundo que nos cerca que passamos até a não ver.

A alta exposição a um elemento, pode gerar insensibilidade. É possível fazer um teste simples, imagine você caminhando no shopping e se deparando com um morador de rua deitado no canto. É o que ocorre com a invisibilidade dos moradores de rua, a presença deles é tão comum e familiar que não nos causa mais estranheza. Mas se por ventura ele for inserido em um ambiente ao qual não é rotineiro (como um shopping) passa a se destacar e a chamar atenção.

O excesso de informação também pode nos cegar para umas tantas coisas. É um desafio enfrentado pela publicidade, pois com o excesso de outdoors, placas e luminosos na rua, passamos a não ver (ou prestar atenção) a nenhum deles. Mas é também um desafio para as pessoas no cotidiano, conseguir obter conhecimento neste punhado de informações que se tem, de todo lugar e a todo tempo.

Isso se chama saturação. Ocorre o mesmo com nossos olhos quando ficamos exposto a uma cor (ou luz) por algum tempo. Ele passa a colocar uma sombra, com a cor complementar, sobre a luz a qual somos expostos e passamos praticamente a não ver aquela cor.

O que ocorre com a nossa psique é que passamos a ser menos sensibilizados com o que vemos com maior frequência. Mas qualquer coisa fora do padrão, volta a se destacar. O perigo que mora nesse processo é que assim, pode-se passar a considerar o que é comum como certo. E daí até passar a praticar ou defender tal ato basta apenas uns passos.

Daí a proibição de certo tipo de filme, para crianças e adolescentes. O adulto, no geral tende a conseguir diferenciar melhor algo que por mais que seja comum de ver, continua sendo certo. Já a criança que ainda não tem seu senso moral totalmente desenvolvido pode vislumbrar isso como normal e internalizar a violência, por exemplo, como algo correto. Para muitos adultos pode parecer ridículo, mas assim com as crianças veem o Papai Noel como algo que existe. Filmes e desenhos para elas também são retratos da realidade, ainda que você diga o contrário.

Saramago em um de seus contos fala que “é necessário sair da ilha para ver a ilha”, ou seja, deve se ter uma avaliação crítica e tentar olhar o macro da situação. Em compensação, eu completo, é preciso entrar na ilha para conhecê-la de verdade. Não é possível avaliar com clareza e cuidado a pele dos habitantes da ilha se não se colocar na pele deles. E ainda assim, seria uma visão superficial, pois apenas quem viveu na ilha toda uma vida pode ter uma ideia dos benefícios e dificuldade que a ilha representa.


Daí a provocação que quero fazer. Com isso, instala-se um paradigma, quanto mais se olha para algo, menos se vê, em contraposição, só se consegue conhecer realmente algo olhando cada vez mais. Portanto, se distanciar em certos momentos pode ser necessário para não nos tornarmos insensíveis ao mundo que nos cerca.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Depois de Ver... Que não se posicionar é se “posicionar”

Por anos enchi o peito e bradei aos quatro ventos que não gostava de discutir política. Apesar de ser na melhor das intenções, para evitar conflitos e indisposições. Apesar de sempre procurar estudar e conhecer o processo político, sobretudo do meu país, sempre me abstive a discutir ou sequer me posicionar sobre.

Hoje cheguei à conclusão que ao não interferir sobre algum assunto, seja ele político ou social, estou compactuando com o poder mais forte em vigor.

Do ponto de vista social, quando escolho não escolher, estou dando o poder de decisão para o braço mais forte. E isso acontece diariamente quando presenciamos e nos deparamos com comportamentos misóginos, sexistas, racistas, homofóbicos, corruptos...

A posição de não questionar, ou não intervir, pode ser muito conveniente para si, evitando transtornos. Em compensação, não evoluímos com o questionamento, não permitimos que o outro evolua e até permitimos a perpetuação de comportamentos mal vistos socialmente.

Analisar e ponderar é tão importante quanto o próprio posicionamento. Se este não for tomado por motivos altruístas e nobres, que é a preocupação com o outro, que pelo menos seja por motivo egoísta, poderia ser você no lugar dele.

Não devemos nos calar ao ver atos de vandalismo, violência, preconceito, humilhação, injúria.... Não devemos nos calar nunca. Dirão, mas devemos ser políticos e às vezes não intervir pode ser a melhor escolha. Melhor escolha para quem? Para o humilhado é que não é.

Há de se pôr um fim na política do silêncio, do apoio velado à violência, seja ela física ou psicológica. Ficar calado é sim um ato político, mas de apoio ao opressor.


Volta e meia volto a um ponto, que considero central no comportamento humano, que é a empatia. E ela tem tudo a ver com o que falamos hoje. Se colocar no lugar do outro, tentar pensar sobre a situação e a condição do outro, é fundamental para a escolha e posicionamento.