Parei hoje no meio do caminho, bem no meio da passada, e me
perguntei: Onde será que me perdi? Em qual desses segundos, em qual trecho, em
qual quilometro eu me perdi? E percebi que em algum momento, algum metro atrás ficou
a vontade de mudar o mundo, e só restou o desejo pulsante de mudar a própria vida.
Mas não foi por muito tempo, perdeu-se também isso e só restou a vontade de
mudar o dia, e só? Que também foi-se em um piscar de olhos, em uma análise e
outra, em uma planilha e outra, em um “hoje é dia de semana” e outro, em uma
solidão qualquer.
Me perdi, e nas poucas vezes que corro desesperadamente na
direção contrária, sôfrego e cansado, e nos poucos segundos que me permito viver
essa louca lucidez, me vejo arrastado por um mar de sorrisos amarelos,
conformados, e vazios, que me impelem para a direção “certa”. E as lagrimas
correm numa facilidade descomunal e me banham a alma com a complacência que me
cabe. Me travisto de homem feito, guardo nas gavetas, a arte, a música, a
poesia, os sonhos e o brilho no olhar, e corro as voltas do próprio rabo na
tentativa vã de vencer mais um dia.
A noite!? Deito conformado, em num berço silencioso, e tento
dormir o sono dos justos, sabendo que não vivi um só segundo das 24 horas, e
sonho com o novo dia em que a vontade retornará, as questões me impulsionarão novamente contra a maré de sanidade, e conseguirei ser mais forte que a
corrente e me permitirei se perder no mar de ideias que me foi apresentado e
tomado em tão tenra idade.