quinta-feira, 19 de maio de 2016

Depois de Ver... A Aceitação dos Pontos de Vista.

“Até aceito, mas se adequar-se à minha realidade”.

Há um desafio implícito em toda relação social no mundo, o meio termo, o equilíbrio, o respeito. Aceitar as diferenças do outro é um desafio imenso para qualquer um, imagine então para um pai ver diferenças de comportamento entre ele e o filho, algo que para a maioria é praticamente inaceitável.

Ser pai, em nossa cultura ocidental está mais ligado ao processo de eternização de si mesmo do que qualquer outra coisa, como o processo natural, ou a perpetuação da raça humana. A perpetuação de si ou mesmo um desejo dúbio de imortalidade, estes sim são motivos mais críveis para o processo de maternidade e paternidade em nosso mundo.

Tentamos criar nossos filhos como extensão de nós mesmos, como cópias carbono no qual identificamos as nossas próprias características, “olha como é a cara do pai”, “o nariz é da mãe com certeza”, “o gênio deste aí vai ser igual ao do pai quando crescer”.  Com isso temos uma imposição de regras e paradigmas ao outro e a nossa descendência que pouco deixa espaço para respeitar a individualidade ou mesmo verificar novos pontos de vista.

Há uma escravidão mental à uma ou várias ideias já consolidadas, que nos impele em direção a pensamentos estabelecidos. Mesmo estes nem sempre sendo corretos ou mais adequados ao meio ou mundo em que vivemos. E junto a isso, é comum tentar passar à própria descendência seus preceitos.

Mas não se engane, há uma grande importância em passar à prole suas opiniões e a noção de moralidade, deve haver também uma herança cultural, no desenvolvimento infantil. Mas vale ressaltar que toda a sociedade é responsável pela criação e desenvolvimento da criança, direta ou indiretamente. O que a criança ouve, lê ou assiste, seja em casa, escola ou na rua e até mesmo a opinião dos colegas e amigos, são interferências em sua formação pessoal, ética e moral.

O grande dilema se instaura quando esta influência externa, vai de encontro a ideologia e educação aplicada pelos cuidadores. E essa se agrava quando os mesmos não conseguem lidar com a gestão destes conflitos e tratam essas discrepâncias através da simples rejeição e não pelo debate.

Tratamos o diferente sempre como o mal. Mas como disse Sartre em uma de suas mais famosas obras: o inferno é o outro. O demônio é tudo que difere das minhas certezas e convicções. A pouca tolerância ao que nos é diferente, nos faz desconhecer saberes que muito ajudariam na nossa formação pessoal. A consolidação de certezas nos tolhe o desenvolvimento, de modo a nos cegar para a visão do outro, que muitas vezes está tão perto.

O processo empático é um desenvolvimento pessoal, que cabe apenas a nós mesmos. E aceitar opiniões divergentes das nossas, principalmente dos nossos filhos, faz parte deste processo, ainda que seja algo tão difícil de lidar.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Depois de Ver... Que Ainda Sou

Estou vivo!!!

No sentido literal da palavra. Estou muito melhor e muito pior desde a última vez que nos encontramos.
Ainda sou o mesmo menino que gosta de jogos, de ler, de música, filmes, que se acha escritor, que se acha poeta, que se acha criança.

Mas já são outras roupas, outras músicas, outros jogos, outros medos, outros anseios...

As responsabilidades me pesam nos ombros como nunca antes. Livros se acumulam dentro do meu já empoeirado cérebro, e me trazem cada vez mais dúvidas sobre a raça humana. Livros se acumulam na minha cabeceira com o selo de “ainda vou ler”.

O mundo já não é mais tão colorido, O dia parece ter se encurtado. Sobram afazeres, falta minutos, horas, faltam.

Nas nem tudo são ônus. Pessoas boas continuam indo e vindo. Me dedico hoje a uma nova faculdade. Pedagogia, ironia, não!? O velho paradigma e medo das faculdades federais, finalmente me abandonou.

A música!? Continua minha companheira. É uma brincadeira que espero que nunca me abandone. É um prazer meu, simples interior. O repertório aumentou, tudo, do mais novo ao mais velho, se junta as músicas que canto e ouço.


Mas no fundo, ainda sou o mesmo menino que quer abraçar o mundo e não sabe ainda por onde começar.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Depois de Ver... O Ditar do Mundo.

No meio do século passado, o psicólogo humanista, Abraham Maslow propunha a pirâmide das necessidades. Nesta teoria, a necessidade de liberdade (segurança, socialização e autoafirmação) é menos importante na hierarquia de Maslow do que a necessidade básica.

Talvez o humanista tenha um fundo de razão para explicar o apreço de algumas pessoas pelo regime militar. Como o regime ditatorial detinha a política de alimento e “segurança” para todos. Muitos tendem a considerar este modelo como o ideal de sobrevivência. Pois é sabido que economicamente o país passou por uma fase de estabilidade durante o período. Mas a que preço? Ao preço da liberdade, a ideológica e mesmo a de ir e vir.

Mas segundo a teoria de Maslow, em modelos assim, a população dificilmente conseguiria alcançar a auto realização. Pois a necessidade de estima e de socialização ficavam comprometidas no processo. E assim, a ditadura teve seus embates com parte da população que conseguiu subir os degraus básicos da pirâmide. E saciadas assim todas as necessidades básicas e de segurança, o povo viu-se carente de socialização. Pode-se acreditar que a busca por esse processo que impulsionou as revoltas populares.

Traçando um paralelo com o regime fascista abordado na obra 1984 de George Orwel, o poder vive em uma luta constante para manter grande parte da população subindo e descendo nos dois primeiros degraus da “escada” (necessidades fisiológicas e de segurança). Para que assim não se criem necessidades de se relacionar, de se auto afirmar ou de pertencer a um grupo. E com isso consegue manter-se por anos no poder com a população sobre controle. Enquanto que no livro de Orwel o Grande irmão consegue desenvolver essas mudanças de forma satisfatória, a ditadura não conseguiu repetir o mesmo feito com a população, que passou a subir os demais graus da pirâmide.

E exatamente o processo inverso que estamos vivendo agora. O povo com liberdade, com socialização, porem muitos começam a sentir dificuldades para saciar necessidades básicas. Com a alta Inflação, ao aumento do desemprego, a saúde em risco e a alimentação faltando no prato de tantos brasileiros. Faz o que muitos voltem a pensar em trocar a liberdade que possuem pelos bens mínimos com saúde, comida e segurança.

Mas a força motriz, talvez o principal interessado pela volta a ditadura, seja alguns empresários que muito se beneficiavam no período e hoje não podem mais explorar a mão de obra sem pagar o preço justo pelo trabalho.

Outro artificio usado pelos militares, que podemos pontuar, foi a internalização de argumentos claramente contraditórios. O duplipensar, como é chamado na literatura de Orwel, consiste em pegar conceitos antagônicos e usa-los como similares. Como por exemplo:  “Ele matou, por isso merece morrer.”, “O mundo está em guerra contra aqueles que perturbam a paz.”


O que assusta é o quão algo tão ilógico parece lógico na mente das pessoas. Com a manipulação correta, o resultado da soma de dois mais dois, muda tantas vezes, e tão rápido, de quatro para cinco, nas mentes dos manipulados, quanto um ponteiro dos segundos de um relógio.



quinta-feira, 5 de maio de 2016

Depois de Ver... Os Medos de Mudar

Como é difícil voltar atrás em algo que se faz ou se diz. Admitir o erro, o equívoco, ou apenas mudar de opinião, torna-se, quase sempre, uma tarefa hercúlea. É como se a cada vez que se necessita dizer algo contrário a algo que foi dito anteriormente, uma entidade invisível e onisciente nos apontasse o dedo e dissesse: “Você errou e merece sofrer a eternidade por isso”.


O mais interessante é que o mesmo sentimento não ocorre quando simplesmente nos calamos e reprimimos a culpa ou a admissão da falha. O julgamento moral do outro é muito importante neste processo.

Desde muito cedo, normalmente se aprende que errar é algo intolerável, não aceito. Mesmo dependo do modelo de educação a qual se é submetido, no geral não sabemos lidar com nossas falhas. Apanhamos quando tiramos notas baixas, nos criticam quando falamos algo errado. Somos punidos o tempo inteiro por erros e falhas. Então, naturalmente se passa a não aceitar os próprios erros.

Pode-se dizer que uma palavra proferida jamais poderá voltar. Ela solta-se no tempo, no espaço e nas memórias. Quando falamos, perde-se o controle sobre o que foi dito. Assim, desdizer algo, nos soa uma agressão tão grande.

E é esse mesmo mecanismo interno que torna tão difícil a separação ou mesmo o rompimento ideológico com um grupo ou associação. Esta é a dificuldade de deixar de seguir um certo grupo, ou mesmo de falar mal de algo ao qual nos sentíamos ligados emocionalmente, mesmo que este alguém ou algo tenha mudado de postura ou adotado comportamento contrário à nossa filosofia de vida.

Talvez por isso a religião ainda seja tão presente no dia-a-dia das pessoas. Este apego a ideias, preceitos sob os quais somos criados são ainda mais difíceis de serem mudados ou mesmo abandonados. Mesmo a ciência tem a sua resistência ao mudar certos conceitos e correntes de pensamento, apesar de ser mais comum neste modelo de estudo a constante quebra de paradigmas. A atual conjuntura política e social sobre a qual vivemos no Brasil e até no mundo, tudo nos impele a cada dia mais a buscar posturas de ceticismo e tentar a cada dia se reinventar de todas as maneiras.

Considera-se estar mais seguro quando em terrenos conhecidos. E por terreno pode se ler, desde ambiente físico até no plano das ideias. Em um debate, por exemplo, ou quando em uma conversa sobre um tema do qual não se domina, há uma sensação constante de insegurança e em alguns casos até medo.

Tomada de decisões desde as mais simples são baseadas em conhecimentos passados, em arquivos mentais. Quando esses pensamentos são sedimentados e enraizados na mente, através de múltiplas experiências similares ou apenas pela repetição de um mesmo comportamento, torna-se muito mais difícil de modificar o padrão mental e desapegar desta informação. Desta forma o padrão evolutivo do humano é o de identificar o novo como arriscado. Como alerta para se pôr em fuga.

Herdamos de forma massiva comportamentos, atitudes e até a visão do mundo de nossos cuidadores, a sociedade em geral e pessoas próximas, sobretudo na infância. Então, refletir sobre estes padrões é mais que nossa obrigação na formação de um caráter pessoal diante do social. E muitas vezes, chegar e este nível de consciência de si próprio e do meio, exige de nós mesmo um esforço ainda que mínimo de mudança de quebra interna de paradigmas e preceitos.

Devemos tentar ao máximo não se chocar com o novo simplesmente por ser novo. Há de haver o mínimo de reflexão para tomarmos um parecer e uma opinião sobre o mundo que nos cerca.

Como já disse Caetano Veloso “...é que narciso acha feio o que não é espelho e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho...“.