quinta-feira, 31 de março de 2016

Depois de Ver... O Conhecimento

 "O único patrimônio que ninguém
tirar do ser humano é o conhecimento."
(Lazaro Ramos)



Podem tirar tudo de um ser, roupas, posses, direitos até a liberdade. Mas o conhecimento, é o único bem verdadeiramente dele. É o bem maior e mais duradouro. É a sua maior arma e seu maior escudo. É individual, e único.

Ser capaz de refletir sobre a própria existência e saber que existe, é uma das poucas coisas que nos diferenciam dos outros animais. E é esse acúmulo de conhecimentos e a transmissão de cultura que nos faz tão adaptáveis e evoluídos como seres vivos, e atualmente como o topo da cadeia alimentar. Ser crítico quanto a sociedade e quanto a sua própria existência é o primordial. E para isso, conhecimentos devem ser, não só acumulados, como trocados, transcendidos.

Na concepção da Gestalt, o pensamento da corrente psicológica, tem como premissa que “o todo é maior que a soma das partes”, a soma de conhecimentos adquiridos, por si só, concebe um novo pensamento. Por mais que concorde em partes, considero que deve haver um processo cognitivo aplicado ao conhecimento para a construção de um novo conteúdo, ou uma opinião sobre o antigo. Pontos estes que são premissas da crítica, conhecimento prévio sobre o objeto.

O pensamento crítico, ao contrário do sentimento negativo que a palavra costuma remeter, deve ser pautado na compreensão do todo (ou tentativa de) e do posicionamento sobre o ponto de vista do praticante da ação.

Se todos estes argumentos ainda não te convenceram da importância de conhecer o mundo que nos cerca, adiciono mais um. Se considerarmos a existência eterna como condição primordial, e que há um pós-vida, imagine-se neste outro plano (céu, inferno, limbo, vahalla... seja lá qual a sua crença), o que você terá do lado de lá quando partir? Duvido que seja um terreno comprado com cartão de crédito, ou as vestes e utensílios de ouro com os quais foi enterrado. Se há um pós-morte, a nossa existência lá depende dos conhecimentos adquiridos e experiências passadas em vida.

Imagine-se do outro lado, passando a eternidade falando sobre posts do facebook, ou jogando dama para sempre. Não sei quanto a vocês, leitores, mas considero uma existência bem rasa e vazia de significado.


Se dois mais dois é sempre mais do que simplesmente quatro, vamos somar e agregar mais conhecimentos e visões sobre tudo. Quem sabe assim nosso mundo não fica maior.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Depois de Ver... Que Não Sabemos Formar Leitores (ou Senta que lá vem TEXTÃO)

As crianças são ensinadas a odiar dias de semana. E espera-se que elas trabalhem a semana inteira satisfeita quando crescerem. São condicionadas a odiar os livros. Mas as exigem que sejam leitoras e estudiosas. Este mundo está cheio de contradições e controvérsias. A sociedade de consumo atual ama o novo, o diferente, mas os repelem e repudiam com o mesmo vigor.

A questão do incentivo à leitura vai muito além da necessidade de decorar ou aprender, ela tange muito mais as necessidades de exercitar a abstração e a relação lógica, além de auxiliar o desenvolvimento cognitivo, a criatividade e até a empatia. A leitura também aumenta o potencial para associar e construir ideias, desenvolver boa autoestima e autoconfiança, além de potencializar nossa capacidade para solucionar problemas.

Porém é importante perceber que o incentivo a ela vai muito além de obrigar as crianças a lerem o material escolar.

Ler continua sendo uma das principais ferramentas de aprendizagem e de auxílio ao desenvolvimento humano, sobretudo do jovem. E o que é feito para lhes estimular a ler? Trata-se as histórias em quadrinhos como forma inferior de leitura, não é dado estimulo através do exemplo, obriga-se a ler os materiais escolares, opta-se por filmes dublados, não presenteiam com livros, fecham a biblioteca fora do horário comercial.

Mas você, leitor, pode estar pensando: “mas esses feitos não incentivam a leitura”. E você está certo. É difícil achar posturas, em adultos, que auxiliem ou impulsionem aos jovens e crianças a ler. Não se dá referências, não se fala sobre, não há exemplo, não é dado sequer acesso à literatura. Mas ainda assim, são exigidos delas que leiam. Percebem a incoerência?

O gosto pela literatura, seja ela de qual tipo for, exige esforço, ainda que mínimo, exige concentração, persistência, atenção... Tudo que a maioria dos outros meios de comunicação não necessitam com tanto afinco. Não há grande exigência de concentração, ou de atenção, quando todas as piadas são prontamente entregues no programa de TV. Não há tanta exigência quando são entregues a mais de um sentido (no caso da TV, visão e audição) tudo de bandeja.

Na escrita, a visão é apenas canal de absorção, toda a construção deve ser interna e criativa. A entrega deve ser muito maior. A relação entre significância e significado é outra, cada palavra contém em si um mundo de significados e uma imensidão ainda mais de significância e exige do leitor, a sua interpretação.

Um não leitor não terá uma vida pior ou será diminuído por isso. Mas a leitura liberta da interlocução do outro. Força processos cognitivos que nenhum outro meio faz. Mas não te faz melhor ou pior. Se ler é apenas uma das ferramentas ou métodos para se adquirir conhecimento. Então por que incentivar a leitura?

Porque “Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que ti dizem” (Quino – cartunista ‘Mafalda’)

Como pais e professores querem que, crianças que tendem a não ler nem sequer coisas divertidas como quadrinhos e histórias, possam ler avidamente textos informativos e didáticos? O ato da leitura é uma prática que poucos tem. Com a prática, seja lá em qual plataforma, a leitura pode tornar-se um hábito. E com ele tudo se torna mais fácil, a escrita, as interpretações do mundo...


Chega a ser absurda essa relação. Exige-se das crianças que leiam e estudem, e tratam o estudo e a leitura sempre como algo chato. Passou da hora de mudar isto.

terça-feira, 22 de março de 2016

Depois de Ver... Mais do Mesmo.

Todo dia sou mais do mesmo. Mas com um monte de variações.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Depois de Ver... As Empresas

No mundo empresarial está enraizado um tradicionalismo que tem sido extirpado a muito custo.

O alto escalão está tão absorto em manter a cultura hierárquica, preocupado com a disputa de poder e manter a “ordem”, que esquece os valores morais e até os objetivos e premissa da função. Acaba inerte, quando deveria conhecer e melhorar os processos e a gestão da instituição.

Essa cultura, unidirecional, proposta e empregada pelas altas hierarquias da estrutura empresarial e política, engessa o desenvolvimento intelectual e produtivo de ambos os lados. Tanto dos proprietários, diretores e líderes, quanto dos funcionários e colaboradores. Todos se prendem a um ciclo vicioso de trocas de figurinhas, mais que repetidas e conhecidas, no qual nenhuma parte consegue se quer olhar para os lados. Até o conhecimento acadêmico, muitas vezes trazido pelos funcionários, são aniquilados pelo conservadorismo e seu medo constante de qualquer tipo de mudanças. São massacrados sobre a falsa bandeira da segurança e do velho jargão “em time que está ganhando, não se mexe”, e o velho álbum continua com suas faltas. Trocar de álbum então... Nem pensar.

Tanto para o trabalhador que não aprende, preso nas rotinas e subestimado pelos chefes, quanto o alto escalão, este congela o conhecimento que já possui e o “prende na parede” como um troféu, a ser apenas exibido e não multiplicado. Assim, fecha-se para novos conhecimentos pelo medo de mudança do algo que já está constituído.

Não há aprendizado nem troca de conhecimento de forma horizontal, muito menos vertical. Os patrões, em sua maioria, pouco se importam com os funcionários e seus conhecimentos, basta que se apresentem dentro dos padrões de beleza e postura aceitáveis. Apenas a manutenção do poder importa.

Sentiu alguma semelhança com a política atual? Não é mera coincidência. O uso da máquina e da máquina/pública com objetivo de manter-se hierarquicamente acima, com os maravilhosos empresários se mantendo em posição privilegiada, pois são magnânimos e geram emprego para a população.

Funcionários/povo com cultura, com personalidade não são interessantes. Eleitores com posicionamento e que questionam, não agradam os políticos que necessitam de uma massa, manobrável e silenciosa para se manter no poder. Sem apresentar mudanças ou melhoras efetivas (mesmo quando estas melhoras são prometidas).


Aqueles que têm algo a mais para pensar, além do que a força a ser aplicada nos parafusos a sua frente, são péssimos para o negócio e para a política.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Depois de Ver... A Chatice do Mundo

O papo de “o mundo está chato” tem muito a ver com isso. Ou será apenas ignorância (ou inocência) em não saber que machucava?

Quando se trata o mundo como chato, por que as minorias simplesmente passaram a levantar a voz contra todos os discursos opressores, que eram comuns até então, se está considerando apenas um lado da moeda. Quando ouço alguém falar: “O mundo está ficando chato, não se pode falar mais nada” a mensagem que fica subentendida na minha mente é: “O mundo era legal quando eu podia falar o que quisesse, ofender quem quisesse e ninguém reclamava. Agora, é chato ter que pensar sobre as coisas que saem da minha boca”.

“Só por que todo mundo faz não quer dizer que seja certo. ”

A evolução do pensamento é parte importante, há quem diga essencial, para a existência humana. A ciência evolui, descobre novas coisas e admite ter se equivocado. Estamos longe de ter um pensamento ou ideia ideal, quem sabe isto nunca ocorra. A evolução é constante e exponencial.

Será mesmo que o mundo está chato? Traçando um paralelo, meio radical, o mesmo pensamento deve ter o marido que sempre bateu na esposa por anos a fio e só a gora a moça teve coragem (ou segurança, ou entendimento, ou liberdade, ou canal de acesso, ou apoio, ou tudo isso junto) para denunciar. “Na última vez que bati em minha esposa ela chamou a polícia para mim. Acredita? Que absurdo, não se faz mais mulheres como antigamente”. Só porque esta opressão/violência verbal, física e/ou psicológica, sempre ocorreu, não indica que ela seja legal ou justificável. Talvez seja “legal” para quem não consegue ou tem dificuldade de se colocar no lugar do outro, antes de falar o que quer que seja.

Se “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, isto não indica que passou a doer agora, sempre foi pimenta, sempre ardeu, só agora o outro começou a reclamar. Não é por que é um chato, é por que agora ganhou voz, agora lhe permitiram abrir a boca, agora ele sabe que a pimenta no olho não é algo que ele mereça apenas por ter nascido, só agora descobriu que arder não é natural.

Sei que o mundo era outro, outras realidades, outras criações, outra educação, outros moldes...  Dirão: “errar é humano”, mas tem que lembrar do complemento “persistir no erro é burrice”. Refletir sobre o que se faz e fala, é uma habilidade do ser humano, e é um direito inato de cada um, que poucos sabem que tem, de mudar de opinião, de postura.  Sei que é duro e difícil ir contra tudo que se falou, ou se fez, um dia. Mas precisamos perceber que não há nenhuma vergonha em mudar, em tentar outros jeitos, em quebrar dogmas e paradigmas.

Se “Quem não chora não mama”, quantos grupos de minorias passaram aí anos, décadas, séculos mudos e morrendo de fome? Com as bocas tapadas pelo medo, pela discriminação. Talvez agora o berro destes muitos não tenham ficado altos demais apenas estão sendo ouvidos. Ouvidos, seja por amor ou pela dor.


Mas se ainda assim, tantos tendem a se manter duros e rígidos nos seus conceitos e preconceitos. Então... é bom lembrar que, mesmo sendo direito de cada um manter-se com seus conceitos e ideais, saibam que o mundo vai caminhar, quer você queira, queiramos, quer não. Só é bom pensar nas consequências que podem vir de cada ato seu. Por que “passarinho que come pedra, sabe o cu que tem”. O mundo, sempre foi chato. E se você não consegue entender isso, talvez você tenha sido o chato todo o tempo.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Depois de Ver... Os Moldes Culturais.

Como pode-se tentar ousar criar conteúdo diferente dos modelos distantes de sua realidade presentes hoje em dia? É difícil se desprender destes moldes, sendo que as únicas referências que se tinha até então são engessadas e duras. Toda e qualquer tentativa de mudança é encarada como rebeldia, e são muitas vezes “assassinadas” antes mesmo de se maturarem.

Nos dias atuais se vive um estágio de rompimento, de transição, de mudança, no qual muito se tem que lutar para abandonar os velhos conceitos e posturas adotados até então. As crianças são o principal foco e a força motriz destas mudanças. Há de se tentar apoiar essa nova fase do pensamento humano na qual a capacidade de procurar e traçar conexões é mais importante do que a capacidade de memorizar ou decorar. Sei o quanto é difícil essa compreensão para todos aqueles que foram criados (e formados) vendo a importância de decorar todo tipo de informação, sobretudo na escola.

O sociólogo e escritor Zygmund Bauman em uma entrevista* no final de 2014 afirmou que é possível que estejamos vivendo em pleno ápice de uma revolução cultural/ideológica, e não nos damos conta. Que é possível que no futuro vão falar dos anos presentes como falamos hoje de rupturas sentidas no passado, como a revolução industrial.

Como é difícil perceber que estamos viajando no espaço a milhares de Km/h sendo que em nosso ponto de vista estamos parados. A relação é mais ou menos a mesma, podemos estar atualmente no olho do furacão sem sentir um vento sequer. E é bem provável que este seja apenas o início da tempestade.

Com essa lógica pode-se pensar que estão sendo criados novos modelos culturais, quando o foco é justamente outro. É a desconstrução dos modelos existentes. É tornar o meio, volátil o suficiente para que possamos conviver com a existência de vários modelos. É a desconstrução, reconstrução e criação de modelos torna-se cada vez mais efêmera e orgânica.

Porém, romper com este ciclo é uma tarefa árdua, sobretudo para os mais velhos. Os jovens já conseguem conviver com todas estas quebra e reconstrução constante de paradigmas, com maior facilidade. Provavelmente por já nasceram em um mundo onde as mudanças são naturais.

O que, a priori, pode parecer apenas conflito de gerações, pode tratar-se, na verdade, do florescer de uma nova sociedade. É aguardar para ver. De preferência, tentando protagonizar estas mudanças.

* É possível ler a entrevista de Bauman na integra aqui:
http://www.fronteiras.com/entrevistas/zygmunt-bauman-e-possivel-que-ja-estejamos-em-plena-revolucao