As crianças são ensinadas a odiar dias de semana. E
espera-se que elas trabalhem a semana inteira satisfeita quando crescerem. São
condicionadas a odiar os livros. Mas as exigem que sejam leitoras e estudiosas.
Este mundo está cheio de contradições e controvérsias. A sociedade de consumo
atual ama o novo, o diferente, mas os repelem e repudiam com o mesmo vigor.
A questão do incentivo à leitura vai muito além da
necessidade de decorar ou aprender, ela tange muito mais as necessidades de
exercitar a abstração e a relação lógica, além de auxiliar o desenvolvimento
cognitivo, a criatividade e até a empatia. A leitura também aumenta o potencial
para associar e construir ideias, desenvolver boa autoestima e autoconfiança,
além de potencializar nossa capacidade para solucionar problemas.
Porém é importante perceber que o incentivo a ela vai muito
além de obrigar as crianças a lerem o material escolar.
Ler continua sendo uma das principais ferramentas de
aprendizagem e de auxílio ao desenvolvimento humano, sobretudo do jovem. E o
que é feito para lhes estimular a ler? Trata-se as histórias em quadrinhos como
forma inferior de leitura, não é dado estimulo através do exemplo, obriga-se a
ler os materiais escolares, opta-se por filmes dublados, não presenteiam com
livros, fecham a biblioteca fora do horário comercial.
Mas você, leitor, pode estar pensando: “mas esses feitos
não incentivam a leitura”. E você está certo. É difícil achar posturas, em
adultos, que auxiliem ou impulsionem aos jovens e crianças a ler. Não se dá
referências, não se fala sobre, não há exemplo, não é dado sequer acesso à
literatura. Mas ainda assim, são exigidos delas que leiam. Percebem a
incoerência?
O gosto pela
literatura, seja ela de qual tipo for, exige esforço, ainda que mínimo, exige
concentração, persistência, atenção... Tudo que a maioria dos outros meios de
comunicação não necessitam com tanto afinco. Não há grande exigência de
concentração, ou de atenção, quando todas as piadas são prontamente entregues
no programa de TV. Não há tanta exigência quando são entregues a mais de um
sentido (no caso da TV, visão e audição) tudo de bandeja.
Na escrita, a
visão é apenas canal de absorção, toda a construção deve ser interna e
criativa. A entrega deve ser muito maior. A relação entre significância e
significado é outra, cada palavra contém em si um mundo de significados e uma
imensidão ainda mais de significância e exige do leitor, a sua interpretação.
Um não leitor não terá uma vida pior ou será diminuído por
isso. Mas a leitura liberta da interlocução do outro. Força processos
cognitivos que nenhum outro meio faz. Mas não te faz melhor ou pior. Se ler é
apenas uma das ferramentas ou métodos para se adquirir conhecimento. Então por
que incentivar a leitura?
Porque “Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que
ti dizem” (Quino – cartunista ‘Mafalda’)
Como pais e professores querem que, crianças que tendem a
não ler nem sequer coisas divertidas como quadrinhos e histórias, possam ler
avidamente textos informativos e didáticos? O ato da leitura é uma prática que
poucos tem. Com a prática, seja lá em qual plataforma, a leitura pode tornar-se
um hábito. E com ele tudo se torna mais fácil, a escrita, as interpretações do
mundo...
Chega a ser absurda essa relação. Exige-se das crianças que
leiam e estudem, e tratam o estudo e a leitura sempre como algo chato. Passou
da hora de mudar isto.
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