Como é difícil voltar atrás em
algo que se faz ou se diz. Admitir o erro, o equívoco, ou apenas mudar de
opinião, torna-se, quase sempre, uma tarefa hercúlea. É como se a cada vez que
se necessita dizer algo contrário a algo que foi dito anteriormente, uma
entidade invisível e onisciente nos apontasse o dedo e dissesse: “Você errou e
merece sofrer a eternidade por isso”.
O
mais interessante é que o mesmo sentimento não ocorre quando simplesmente nos
calamos e reprimimos a culpa ou a admissão da falha. O julgamento moral do
outro é muito importante neste processo.
Desde
muito cedo, normalmente se aprende que errar é algo intolerável, não aceito.
Mesmo dependo do modelo de educação a qual se é submetido, no geral não sabemos
lidar com nossas falhas. Apanhamos quando tiramos notas baixas, nos criticam
quando falamos algo errado. Somos punidos o tempo inteiro por erros e falhas. Então,
naturalmente se passa a não aceitar os próprios erros.
Pode-se
dizer que uma palavra proferida jamais poderá voltar. Ela solta-se no tempo, no
espaço e nas memórias. Quando falamos, perde-se o controle sobre o que foi
dito. Assim, desdizer algo, nos soa uma agressão tão grande.
E é esse
mesmo mecanismo interno que torna tão difícil a separação ou mesmo o rompimento
ideológico com um grupo ou associação. Esta é a dificuldade de deixar de seguir
um certo grupo, ou mesmo de falar mal de algo ao qual nos sentíamos ligados
emocionalmente, mesmo que este alguém ou algo tenha mudado de postura ou
adotado comportamento contrário à nossa filosofia de vida.
Talvez
por isso a religião ainda seja tão presente no dia-a-dia das pessoas. Este
apego a ideias, preceitos sob os quais somos criados são ainda mais difíceis de
serem mudados ou mesmo abandonados. Mesmo a ciência tem a sua resistência ao
mudar certos conceitos e correntes de pensamento, apesar de ser mais comum
neste modelo de estudo a constante quebra de paradigmas. A atual conjuntura
política e social sobre a qual vivemos no Brasil e até no mundo, tudo nos
impele a cada dia mais a buscar posturas de ceticismo e tentar a cada dia se
reinventar de todas as maneiras.
Considera-se
estar mais seguro quando em terrenos conhecidos. E por terreno pode se ler,
desde ambiente físico até no plano das ideias. Em um debate, por exemplo, ou quando
em uma conversa sobre um tema do qual não se domina, há uma sensação constante
de insegurança e em alguns casos até medo.
Tomada
de decisões desde as mais simples são baseadas em conhecimentos passados, em
arquivos mentais. Quando esses pensamentos são sedimentados e enraizados na
mente, através de múltiplas experiências similares ou apenas pela repetição de
um mesmo comportamento, torna-se muito mais difícil de modificar o padrão
mental e desapegar desta informação. Desta forma o padrão evolutivo do humano é
o de identificar o novo como arriscado. Como alerta para se pôr em fuga.
Herdamos de forma massiva comportamentos, atitudes e até
a visão do mundo de nossos cuidadores, a sociedade em geral e pessoas próximas,
sobretudo na infância. Então, refletir sobre estes padrões é mais que nossa
obrigação na formação de um caráter pessoal diante do social. E muitas vezes,
chegar e este nível de consciência de si próprio e do meio, exige de nós mesmo
um esforço ainda que mínimo de mudança de quebra interna de paradigmas e
preceitos.
Devemos
tentar ao máximo não se chocar com o novo simplesmente por ser novo. Há de
haver o mínimo de reflexão para tomarmos um parecer e uma opinião sobre o mundo
que nos cerca.
Como
já disse Caetano Veloso “...é que narciso acha feio o que não é espelho e a
mente apavora o que ainda não é mesmo velho...“.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Mas fique a vontade e aproveite o espaço para deixar suas impressões DEPOIS DE VER meus textos.