No meio do século passado, o psicólogo humanista, Abraham Maslow
propunha a pirâmide das necessidades. Nesta teoria, a necessidade de liberdade
(segurança, socialização e autoafirmação) é menos importante na hierarquia de
Maslow do que a necessidade básica.
Talvez o humanista tenha um fundo de razão para explicar o
apreço de algumas pessoas pelo regime militar. Como o regime ditatorial detinha
a política de alimento e “segurança” para todos. Muitos tendem a considerar
este modelo como o ideal de sobrevivência. Pois é sabido que economicamente o
país passou por uma fase de estabilidade durante o período. Mas a que preço? Ao
preço da liberdade, a ideológica e mesmo a de ir e vir.
Mas segundo a teoria de Maslow, em modelos assim, a
população dificilmente conseguiria alcançar a auto realização. Pois a necessidade
de estima e de socialização ficavam comprometidas no processo. E assim, a
ditadura teve seus embates com parte da população que conseguiu subir os
degraus básicos da pirâmide. E saciadas assim todas as necessidades básicas e
de segurança, o povo viu-se carente de socialização. Pode-se acreditar que a
busca por esse processo que impulsionou as revoltas populares.
Traçando um paralelo com o regime fascista abordado na obra
1984 de George Orwel, o poder vive em uma luta constante para manter grande
parte da população subindo e descendo nos dois primeiros degraus da “escada”
(necessidades fisiológicas e de segurança). Para que assim não se criem
necessidades de se relacionar, de se auto afirmar ou de pertencer a um grupo. E
com isso consegue manter-se por anos no poder com a população sobre controle.
Enquanto que no livro de Orwel o Grande irmão consegue desenvolver essas
mudanças de forma satisfatória, a ditadura não conseguiu repetir o mesmo feito
com a população, que passou a subir os demais graus da pirâmide.
E exatamente o processo inverso que estamos vivendo agora.
O povo com liberdade, com socialização, porem muitos começam a sentir
dificuldades para saciar necessidades básicas. Com a alta Inflação, ao aumento
do desemprego, a saúde em risco e a alimentação faltando no prato de tantos
brasileiros. Faz o que muitos voltem a pensar em trocar a liberdade que possuem
pelos bens mínimos com saúde, comida e segurança.
Mas a força motriz, talvez o principal interessado pela
volta a ditadura, seja alguns empresários que muito se beneficiavam no período
e hoje não podem mais explorar a mão de obra sem pagar o preço justo pelo
trabalho.
Outro artificio usado pelos militares, que podemos pontuar,
foi a internalização de argumentos claramente contraditórios. O duplipensar,
como é chamado na literatura de Orwel, consiste em pegar conceitos antagônicos
e usa-los como similares. Como por exemplo:
“Ele matou, por isso merece morrer.”, “O mundo está em guerra contra
aqueles que perturbam a paz.”
O que assusta é o quão algo tão ilógico parece lógico na
mente das pessoas. Com a manipulação correta, o resultado da soma de dois mais
dois, muda tantas vezes, e tão rápido, de quatro para cinco, nas mentes dos
manipulados, quanto um ponteiro dos segundos de um relógio.
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