Há um certo simbolismo na história bíblica de Adão e
Eva. Eles foram expulsos do paraíso por saber. Isso mesmo, por saber. Então, de
algum modo a religião cristã encara o saber como algo negativo, como o mal.
Qual é o mal de saber? Qual o problema em saber, que
fez Deus os renegar apenas por terem adquirido conhecimento?
O saber sempre foi visto como uma poderosa arma, desde
o início dos tempos. O conhecimento sobre o meio, sobre si e sobre o outro,
proporciona de maneira singular a divisão da sociedade, desde os primórdios. É
fato que aqueles que detiveram primeiro domínio (leia-se conhecimentos) sobre o
fogo, tiveram vantagens na sobrevivência no mundo pré-histórico.
A questão chega quando o conhecimento passa de apenas
uma vantagem, para ser uma ferramenta da opressão. O que o opressor menos
espera é que o oprimido saiba. Não querem nem ao menos que saiba que é
oprimido. Este conhecimento por si só, já gera um descompasso na hierarquia.
Somos todos Adão’s e Eva’s, sendo expulsos do paraíso
que é a infância, quando passamos a conhecer. E passamos a ter a ciência do bem
e do mal, quando perdemos a inocência, comum da idade, tudo ganha mais e mais
sentidos. A partir daí, nada será como antes.
Somos tirados do conforto de um mundo conhecido,
calmo, pragmático e simples. E jogados no olho do furacão, nas inquietações
causadas pelo conhecimento. Se é lançado a um infinito de dúvidas, de
incertezas, em um mar de agonias onde cada saber, gera uma imensidão de
possibilidades.
Porque o conhecimento liberta. Mas além disso ele nos
responsabiliza por nossos atos, pelas consequências dele. E quase nunca é
confortável ter escolhas a mão, ter responsabilidades. É muito mais fácil ser
guiado, ser ovelha.
Na Alegoria da Caverna, Platão observava o quanto era
cômodo se manter com seus velhos conceitos, se manter preso de frente para a
parede apenas tentando interpretar as imagens do mundo lá de fora. E mostrava o
quanto é difícil se encaixar nos moldes anteriores pré-estabelecidos, quando se
expande seu próprio mundo. Ou seja, o quanto é difícil conseguir acesso de
volta ao “paraíso” da caverna, quando conhece a realidade e faz uma leitura
mais próxima do mundo.
Mas engana-se quem considera os livros como a única
fonte de saber. O Paulo Freire, já falava que a leitura do mundo é tão ou mais
importante que a leitura das palavras. É preciso experiência dos mais diversos
olhares e nuances do mundo e agir de forma ativa, reflexiva e crítica para com
este conhecimento.
As “imagens” criadas pelas culturas e informações que
recebemos durante toda a vida é tão mais cômoda e simples. E não é fácil romper
com estes velhos paradigmas, pessoais e sociais com os quais lidamos
diariamente. É preciso ter coragem e boa vontade para sair do paraíso, é
preciso coragem para crescer.
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