Quando uma das
provas foi recitar um poema e minha então namorada me intimou: “vai, recita um.
O pessoal vai gostar.”
Não sei o que me
deu, mas levantei a mão. Tímido no fundo do ônibus todos me olharam, a minha
equipe, agradecendo minha coragem por tentar, os adversários, olhavam
pensativos imaginando qual tipo de merda sairia e que só precisavam tentar algo
um pouco melhor.
Eu!? Me perguntava
o por que ter levantado a mão.
Rapaz introvertido,
criado no interior, que pouco conhecida da vida e do mundo, mas sempre
apaixonado pela literatura desde a infância. Dado ao drama, costumava decorar
pequenos poemas, músicas e textos. Que recitava para si, nunca no espelho,
nunca gravado, tinha uma espécie de medo da própria imagem e do som da
própria voz. Mas levantei a mão, e ao terceiro segundo de silêncio, a minha voz
se sobrepôs ao barulho do motor e como que cuspida em angustia a poesia saiu.
Um belo texto de
autoria desconhecida, que havia sido recitado por Chico Anysio. A
particularidade do texto? Todas as palavras dele iniciava com “M”.
“Mundo moderno,
marco malévolo...”O nervoso foi usado para dar emoção ao texto. As palavras iam brotando da garganta sem ao menos
perceber. “...manahazinha, move muinho. Moendo macaxeira, mandica...”.
Uma após outra vão deslizando pelo ar e sendo comportada
por ouvidos atentos. ”...muitos migram, macilentos, maltrapilhos...” e
enfim “... mundinho merda.”
Com voz embargada, olhos cheios de lágrimas que não caíram.
Foram aplausos de
todo um ônibus. Cheios de universitários rumo a uma viagem de férias, foram
trazidos a uma dolorosa realidade naquelas palavras. Mas o olhar ao meu lado de
admiração e felicidade era algo impagável, incomparável e sublime.
Sobretudo para um leonino como eu.
Foi assim, que não mais conseguir controlar minha paixão
pelo teatro.
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