- Mas o que eu faço? O que eu
falo? – Perguntou Lian revirando-se na cadeira.
- É simples. Não faz nada. – Foi
a resposta impassível dada pelo Samael.
Os dois estavam sentados a alguns
minutos em uma mesa ao fundo do bar quase vazio. Os primeiros copos de whisk de
ambos já estavam chegando ao fim, e a conversa nem dava sinais de acabar.
- Você acha? E se eu for
esquecido? – Lian resmungou olhando para o copo.
- Não tem “se” nessa história.
Você será esquecido. Se você não fizer nem falar nada, só vai acelerar um pouco
o processo. O que provavelmente será bom para todos.
Coincidentemente duas horas
antes, naquela mesma mesa, a cena era outra.
Eva pensava enquanto olhava
distraída para um quadro na parede. Estava sentada junto a duas amigas que
conversavam euforicamente sobre banalidades. Ou seriam coisas importantes, Eva
não se importava. Em sua cabeça apenas duas palavras ressoavam “e se...”.
- ...e podemos fazer assim, né!?
O que você acha Eva? – perguntou Cíntia virando-se para ela.
- Eu... – titubeou voltando a si,
do mergulho de seus pensamentos onde se encontrava.
- Onde você tá com a cabeça,
hem?! Ultimamente tu anda assim. – Bruna comentou ríspida.
Eva levantou-se rapidamente e
saiu a passos rápidos em direção à porta. Parou segurando a porta de saída e
murmurou para si:
- Tudo é mutável, e a chave está
em minhas mãos.
Horas mais tarde, Lian ainda
pensava sobre a frase do amigo, e enquanto dava os derradeiros goles de sua
bebida disse:
- Você tem razão, acho que essa é
a melhor decisão para o momento. Mais isso não quer dizer que é para sempre, né!?
A última frase soou como quisera
se convencer do que dizia. A resposta de Samael veio fingindo uma certeza que
não existia:
- É.
Lian, que durante a espera da resposta
manteve a respiração presa, suspirou aliviado e pediu outra dose ao garçom. Só
quando ambos já estavam com seus copos novamente cheios ele voltou a falar:
- Tudo bem. Eu aceito. Diga-me o
que tenho que fazer.
- Como já disse, nada. Vá e viva
a sua vida. O tempo se encarregará do resto. – ele parou o copo no meio do
caminho ate a boca e continuou - Ela virá a qualquer momento. Lembre-se de não cometer
o mesmo erro novamente e comentar sobre nosso encontro. Ainda há muito o que
ela aprender.
A resposta foi muda. Uma desviada
de olhos e uma leve contraída de boca. Porem foi suficiente para Samael
entender que suas palavras haviam sido ouvidas e consequentemente seriam
cumpridas a risca.
Ainda com sua ultima frase
suspensa sobre a mesa, Samael tragou toda a bebida de um gole, voltou a sentar
o copo na mesa e se levantou. Com um ar prepotente nos lábios e sem dizer nada,
deu as costas e saiu, deixando o amigo com os seus pensamentos.
Minutos depois Eva entrou um tanto
quanto apreensiva pela porta do bar e fixou seus olhos no olhos de Lian, que
ainda se encontrava sentado. Ela se aproximou e sorriu, ele em resposta ensaiou
um sorriso e disse:
- Estava te esperando.
- Me disseram que você estava
aqui.
- Que bom. Já tava de saída.
Vamos.
Ambos se direcionaram para a
porta lado à lado, em silêncio. Na certeza de que tudo é transitório, Lian
deixou o bar em companhia de Eva. Em seu intimo ainda havia um pouco de
esperança, que mesmo para um ser ateu como ele, podia soar como fé.
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